Seis a cada dez mulheres assassinadas em Minas em 2017 eram negras

Raul Mariano
05/06/2019 às 20:52.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:59
 (Arquivo Hoje em Dia)

(Arquivo Hoje em Dia)

Pelo menos seis a cada dez mulheres vítimas de homicídio em Minas em 2017 eram negras. O dado consta no Atlas da Violência 2019 e mostra que os ataques a esse grupo têm crescido no Estado, superando inclusive a média geral de assassinatos.

De 2007 a 2017, os homicídios de forma geral aumentaram 4,2% no território mineiro. Já as mortes de mulheres negras, 5,2%. No caso do mesmo crime às de outras raças, o caminho foi inverso, com redução de 6,9%. 

O quadro, na avaliação de especialistas, reflete o racismo estrutural que persiste na sociedade apesar da abolição da escravidão, há 131 anos. O advogado Warley Belo, membro do Instituto de Ciências Penais (ICP), afirma que essa população é a maior vítima da violência “desde tempos imemoriais”. 

“O problema não é apenas de gênero, mas também de raça. Há questões históricas de desequilíbrio econômico, formação educacional e estrutura familiar que vão refletir proporcionalmente sobre as mulheres”, explica. 

Dificuldades 

O grupo também enfrenta dificuldade para fugir de situações de abuso e violência doméstica. Quem afirma é a psicóloga e integrante da Comissão Mulheres e Questões de Gênero do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP-MG), Monaliza Alcântara.

“Muitas vezes, essas pessoas não têm estrutura afetiva nem emocional para saírem desse lugar em que são colocadas porque, além da violência de gênero, são alvo de racismo. Além disso, recebem apoio pouco qualificado do poder público”, afirma Monaliza. 

Outra preocupação apontada pelo Atlas da Violência, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), é o crescimento da morte de mulheres por arma de fogo dentro de casa, em todo o país. De 2007 a 2017, o índice aumentou quase 30%. De acordo com análise do próprio relatório, “causa preocupação a flexibilização em curso da posse e porte de armas de fogo no Brasil”.

Sobrevivente

A estudante de direito Lidiane Chagas, de 31 anos, sentiu na pele a dor de um relacionamento abusivo e relata que sobreviveu “por um milagre”. Negra e moradora de Contagem, na Grande BH, ela levou dois tiros do ex-namorado quando tinha 17. Um dos disparos atingiu a nuca e a deixou tetraplégica.

“Terminei o namoro e, três meses depois, ele atirou em mim. Foram cinco meses e dez dias internada, tive quatro paradas respiratórias. Apesar de tudo isso, só em setembro do ano passado ele foi preso”, relembra.  Hoje, Lidiane afirma que ainda enfrenta obstáculos. “Ser negra e de classe média baixa é estar à margem da sociedade e ser privada de muitos direitos”, garante. 

Prevenção

Por nota, a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) afirmou que Minas registrou redução de 19,3% no número de feminicídios tentados e consumados no primeiro quadrimestre deste ano, se comparado ao mesmo período de 2018, segundo dados da Polícia Civil.

Além disso, a pasta citou que diversas ações de prevenção são realizadas. Dentre elas, o programa Mediação de Conflitos, a Companhia de Polícia Militar Independente de Prevenção à Violência Doméstica (PVD), as 72 delegacias especializadas do atendimento à mulher e a criação do Núcleo Especializado de Investigação de Feminicídios.Editoria de Arte  

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