Coleiras de rastreamento

Sistema de monitoramento fortalece conservação de animais silvestres em Minas

Coleiras de rastreamento fornecem dados sobre comportamento de espécies em área de pressão urbana

Do HOJE EM DIA*
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Publicado em 17/10/2025 às 10:48.
Equipados com coleiras de rastreamento, lobos-guarás, onças-pardas e outros carnívoros são acompanhados por equipes técnicas que avaliam deslocamentos, sobrevivência e adaptação das espécies (Prime Ambiental / Divulgação)
Equipados com coleiras de rastreamento, lobos-guarás, onças-pardas e outros carnívoros são acompanhados por equipes técnicas que avaliam deslocamentos, sobrevivência e adaptação das espécies (Prime Ambiental / Divulgação)

O uso de coleiras de rastreamento se consolidou como uma ferramenta estratégica no manejo da fauna em Minas Gerais. Os dispositivos registram o comportamento e a movimentação dos animais após a soltura, fornecendo dados importantes que direcionam o trabalho de campo e auxiliam as políticas públicas de conservação da biodiversidade no estado.

No Parque Estadual da Serra do Rola-Moça, que é administrado pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF), o monitoramento faz parte de um trabalho contínuo de pesquisa e proteção. As equipes realizam a captura, sedação, exames clínicos, coleta de sangue e pesagem do animal em menos de uma hora, devolvendo-o ao local de origem para minimizar o estresse e maximizar a coleta de informações científicas.

Segundo o biólogo Joaquim Silva, coordenador do programa de monitoramento, o uso de rádio-colares representa um avanço na compreensão da ecologia de espécies de vida livre.

“Os equipamentos variam em tamanho conforme o porte do animal e enviam dados via satélite quase de hora em hora, permitindo entender padrões de comportamento, deslocamento e áreas de uso”, explica. As coleiras possuem um sistema automatizado de liberação (*drop-off*) que se desprende do animal após até dois anos, sem causar danos.

O biólogo acrescenta que, apesar do tamanho, os equipamentos pesam no máximo $5\%$ a $6\%$ do peso corporal. No caso das onças, pesam apenas $2,6\%$. “Os animais se adaptam rapidamente, e o dispositivo é resistente à água, vegetação densa e longos períodos de exposição. É a mesma tecnologia usada em projetos nacionais e internacionais”, completa.

O acompanhamento permite identificar padrões de atividade antes imperceptíveis. Os dados revelam momentos de repouso, caça ou deslocamento por diferentes tipos de vegetação, o que ajuda a mapear corredores ecológicos e identificar riscos, como atropelamentos e perda de *habitat*.

“O Parque do Rola-Moça é uma área de Cerrado muito significativa e tem a particularidade de ser um parque urbano. Esse monitoramento reforça nossa estratégia de proteção da fauna nas unidades de conservação e em suas zonas de amortecimento”, destaca a secretária de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Marília Melo.

Ela afirma que o estudo fornece subsídios para pesquisas e políticas de conservação. “Compreender o comportamento dos animais em ambientes próximos da área urbana é essencial para garantir sua sobrevivência e promover o bem-estar animal”, ressalta.

De acordo com o gerente do Parque Estadual da Serra do Rola-Moça, Henri Collet, a prioridade é preservar a integridade física e o bem-estar do animal. “A captura é feita com segurança e supervisionada por veterinários. Após a sedação, realizamos exames e verificamos possíveis doenças, especialmente pela convivência com animais domésticos. Todo o processo dura, no máximo, uma hora, e a soltura ocorre imediatamente no mesmo local”, explica.

Os dados coletados alimentam um banco de informações compartilhado com o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap/ICMBio), que integra uma rede nacional e internacional de especialistas. O objetivo é ampliar o conhecimento sobre o comportamento e a adaptação de espécies como o lobo-guará, a jaguatirica e a onça-parda, todas presentes em Minas Gerais.

Além de apoiar pesquisas, o monitoramento contribui para o planejamento territorial e o fortalecimento das políticas ambientais. “A ecologia do movimento nos permite ver a paisagem pelos olhos de um lobo, por exemplo. Ao compreender quais áreas eles utilizam e consideram vitais, conseguimos priorizar zonas de conservação e identificar espaços de coexistência entre fauna e atividades humanas”, afirma Joaquim Silva.

O estudo no Rola-Moça é inédito por ocorrer em uma área sob forte pressão urbana — próxima a rodovias, empreendimentos e mineração — e busca entender como os animais desenvolvem estratégias de sobrevivência nesse contexto.

*Com informações da Agência Minas

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