A suposta ligação entre a morte de um adolescente de 16 anos no bairro Ribeiro de Abreu, na região Norte de Belo Horizonte, e o jogo Baleia Azul reacendeu a discussão sobre o suicídio entre jovens. O tema ainda é tabu para a maioria das pessoas, mas está cada vez mais presente no cotidiano. Prova disso são os dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) que revelam que, de 2010 a 2016, o número de pessoas entre 15 e 19 anos que tentaram se matar no Estado cresceu 15 vezes.
Os casos de jovens brasileiros envolvidos com o jogo que começou, em 2015, na Rússia, dão uma dimensão do risco presente na “brincadeira”. Em Pará de Minas, um rapaz de 19 anos, pai de uma criança recém-nascida e membro de um grupo do Baleia Azul, deu fim à própria vida ingerindo centenas de comprimidos antidepressivos na última semana. No Rio de Janeiro, a Delegacia de Repressão a Crimes Virtuais investiga pelo menos mais dois casos de menores que podem estar participando do jogo.
O cenário serve de alerta para pais cujos filhos são usuários assíduos das redes sociais e dos aplicativos de comunicação instantânea, ambientes onde interage e se comunica grande parte do público adolescente. Para especialistas, os motivos para que um jovem cometa suicídio podem estar ligados a um sofrimento psicológico não amparado pela família, mas também a um contexto social influenciado pela recessão econômica.Confira arte:
O gerente de psicologia clínica do Hospital Espírita André Luiz, Guilherme Wykrota, afirma que o número de jovens em situação de autolesão que buscam internação na instituição tem crescido. No entanto, ele destaca que o problema pode ter raízes no estilo de vida acelerado, vivido sobretudo pelos pais desses jovens.
“Nós vivemos uma situação social grave, onde as pessoas estão tendo difícil acesso a bens fundamentais. Os pais precisam ficar fora de casa muitas horas, às vezes ter até mais de dois empregos para garantir o sustento familiar. Isso está diretamente ligado a essa alienação”, avalia.
Para o psicólogo, a difusão do acesso à internet potencializa o problema. “Pessoas que, antes, viviam muito isoladas, conseguem agora elaborar ali o próprio sofrimento. E isso acontece em todo o mundo, já que os relacionamentos estão se dando pela via da competição e não da solidariedade. Algo típico no neoliberalismo”, afirma Wykrota.
Responsabilidade
A psicanalista e pedagoga Maria Íris Mendes, membro da Associação Mineira de Psicanálise, endossa o discurso de que o distanciamento entre pais e filhos pode estar contribuindo para a formação de jovens desestruturados emocionalmente.
“Há uma clara terceirização da criação dos filhos para as escolas e as babás. Vivemos uma cultura de extremo consumo. Uma criança que não tem um tablet, por exemplo, não é bem vista entre os colegas. No jogo Baleia Azul, as tarefas são dadas durante a madrugada e os pais simplesmente não veem. Há muita tecnologia disponível para jovens sem estrutura alguma. Eles estão despreparados e quem tem responsabilidade direta é quem os está criando”, critica.
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