Tirando (de vez) a gravata da carta de vinhos

Cristina Barroca - Hoje em Dia
02/11/2014 às 20:58.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:52

É relativamente comum, em um restaurante, o garçom entregar a carta de vinhos ao homem da mesa, ou mesmo abrir a garrafa e oferecer a prova a ele. Situação que fica constrangedora quando, na verdade, quem entende da bebida dos deuses, ali, é a mulher. Um outro mito é convencionar que toda mulher tem preferência pela bebida mais suave, delicada, adocicada – ou mesmo “adamada” (de dama), como costumam dizer.    Mais um equívoco, diz a advogada Izabela Magalhães, 34 anos, única representante do chamado “sexo frágil” (entre 12 inscritos) em mais um curso de qualificação de vinhos oferecido recentemente, na capital mineira, pela instituição britânica Wine and Spirit Education Trust (WSET), representada pela Eno Cultura no Brasil.   A mineira diz que sente um despreparo na abordagem da mulher como consumidora da bebida. “Em muitos estabelecimentos, o vendedor me induz a comprar um vinho frutado e ligeiro; mas tenho preferência pelos mais encorpados e amadeirados”, desabafa.   Já Solange Leonel Gomes, 35, apreciadora de vinhos há mais de dez anos, diz não sentir esse preconceito, mas confessa que estabeleceu manobras para lidar, no dia a dia, com o serviço de oferta da bebida. Uma dessas estratégias é o marido sempre alertar o vendedor: “Ela entende mais de vinhos que eu”.   A sensibilidade do vinho tem intrigado cada vez mais as mulheres. “Meu interesse começou quando percebi que se tratava de uma bebida sensível e influenciada por diversos fatores: solo, clima, tipo de uva”, completa Solange.   Sucesso   Ana Luiza Borges, 34 anos, é mestre em vinhos, professora e consultora. Começou a trabalhar em restaurantes aos 13 anos e buscou aprimorar seu conhecimento na Europa.    A profissional conta que enfrentou preconceito durante sua formação. Hoje, luta para que a bebida não seja rotulada. “É preciso tirar a gravata do vinho. Em todos os sentidos”, afirma.    A professora também alerta que o preconceito não se configura uma briga entre sexos, e, sim, cultural. Segundo ela, algumas mulheres costumam demonstrar surpresa quando se deparam com uma orientadora do sexo feminino. “Mas é mulher quem vai nos ensinar?”, exemplifica.    Mais criteriosas e mais antenadas ao paladar   Cerca de três mil vinhos degustados, e mais de 100 mil quilômetros rodados entre 24 países marcaram mais uma edição do projeto “Wine World Adventure”, que propõe a visitação de vinícolas pelo mundo. Natália Vieira Barros, 30 anos, fez parte dessa expedição e conta que o mito de o homem ser mais entendido no assunto vinho ainda é perceptível em certas feiras e eventos – nas quais, muitas vezes, a presença feminina se restringe ao atendimento, em detrimento do aconselhamento. “Às vezes, o ambiente é um pouco intimidador por ser majoritariamente masculino”, admite.    Dentro das vinícolas, o cenário é mais democrático. Lá, ela diz notar cada vez mais a presença de enólogas e uma marcante atuação da mulher no processo de separação das uvas. “A mulher é mais delicada e atenciosa para este serviço”.   Vantagem    Muitas mulheres não sabem, mas a realidade é que sim, elas de fato possuem uma vantagem em relação aos homens diante da análise sensorial de um vinho. “Além de mais criteriosa, culturalmente a mulher é mais antenada ao paladar pela gastronomia e aos aromas, devido ao gosto por perfumes e cosméticos”, explica Natália.  “Desde cedo temos contato com os perfumes da comida, o que é essencial para a degustação de um vinho”, completa a professora Ana Borges. 

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