A falta de conforto não é o único motivo a impedir que mais pessoas optem pelo transporte público. Do ponto de vista financeiro, usar o veículo particular se torna cada vez mais atrativo. Enquanto as tarifas de ônibus subiram 63% entre 2003 e 2009, os gastos gerais com o automóvel aumentaram menos que a inflação no período, que foi de 41,8% (IPCA). A gasolina, por exemplo, ficou 27,5% mais cara e o preço de um automóvel novo aumentou 19%.

É o que mostra um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que, com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apresentou o gasto médio dos brasileiros com deslocamentos. No país, 15,23% da renda das famílias banca somente as despesas de transporte.

Parado no tempo

Mais do que o valor da tarifa, o presidente da ONG SOS Mobilidade Urbana, José Aparecido Ribeiro, atribui a preferência nacional por meios de transporte próprios a outros motivos. “Deixamos o bonde para usar o ônibus, mas em 50 anos ele não evoluiu. Continua sendo um meio de deslocamento lento e desconfortável”. Mudar esse quadro, porém, dependeria do reajuste das passagens, o que sacrificaria ainda mais os trabalhadores brasileiros. “A tarifa de R$ 2,65 cobrada em Belo Horizonte é cara, mas justa. Precisaríamos que o governo subsidiasse o transporte público para que o serviço se tornasse mais atrativo”. Técnico do Ipea, Carlos Henrique Carvalho entende, porém, que melhorias no transporte público não bastam para garantir uma mobilidade mais eficaz nos grandes centros urbanos.

Status

“Ter um veículo significa ascender socialmente. Mesmo se os coletivos fossem eficientes, as pessoas não deixariam de comprar carro ou moto quando tivessem condições financeiras mais favoráveis”, afirma. Ele defende que, junto à qualificação do transporte público, os gestores desenvolvam políticas para restringir e racionalizar o uso dos veículos individuais no dia a dia.