Um novo rabisco: ex-pichador, Goma quer refazer a história no grafite

Raul Mariano
rmariano@hojeemdia.com.br
09/02/2017 às 17:40.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:47

O cerco à pichação em Belo Horizonte, apesar de estar longe de conter o exército que se dedica à prática na capital, contribuiu para a mudança de rumos de um dos maiores representantes do gênero no país. João Marcelo Capelão, o Goma, decidiu se dedicar exclusivamente ao grafite depois de ficar preso por duas vezes e ver familiares entrarem em depressão. Mais do que isso, o mineiro de 33 anos que fez escola no “pixo” quer, agora, ajudar a transformar jovens pichadores em grafiteiros.

A proposta é abrir uma escola de grafite que ofereça alternativa a menores que já tenham envolvimento com a pichação. Dessa forma, jovens apreendidos pela polícia, ao invés de receberem medidas punitivas, seriam matriculados na escola para aprender com o ex-pichador a arte do grafite. “Ao invés da repressão, a educação”, afirma Goma.

A ideia, que ainda depende uma possível parceria com a prefeitura de BH e a Justiça, tem a meta ambiciosa de transformar a realidade de garotos e garotas sedentos por se expressarem por meio da arte urbana. 

rafiteiro e comerciante)

“No meu caso, se tivessem me pegado com 14 anos, começando a pichar, eu poderia ter feito tudo que fiz no grafite, inventando um personagem próprio, como a menina que desenha o bolinho mordido nos muros da cidade (a artista Maria Raquel) e tem um trabalho muito bem aceito. Poderia ter evitado passar tudo que passei”, afirma Goma. 

O artista relembra com pesar os dois períodos que esteve preso. O primeiro deles por quatro meses, no Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ceresp) da Gameleira em 2010. O segundo, no ano passado, por oito meses, no presídio Antônio Dutra Ladeira, em Ribeirão das Neves, na Grande BH. 

Goma explica que o risco de ficar atrás das grades por causa da pichação foi o principal motivo que o levou a abandonar a prática. Hoje, além do projeto da escola de grafite, o artista aposta as fichas na própria loja de acessórios e ainda em uma marca de roupas criada por ele mesmo com temas ligados à arte urbana. Na pichação, ele garante que sua carreira está encerrada. 

“Eu pichava sempre em forma de protesto, muitas vezes por causas que nem eram minhas. Defendi lutas de muitas pessoas que acabaram se voltando contra mim. O meu primeiro objetivo era ser reconhecido e mostrar que eu existo. Isso já consegui”, conclui. 

Batalha

Nos últimos dias, o Hoje em Dia mostrou que a guerra travada entre poder público e pichadores é antiga em Belo Horizonte. A primeira lei do município criminalizando a pichação é de 1995. No entanto, a repressão até o momento tem sido ineficaz. 

A reportagem contabilizou pelo menos 597 imóveis pichados nos principais corredores da cidade. Como se não bastasse, a PBH gastou, de janeiro a setembro de 2016, nada menos que R$ 316 mil com a limpeza de equipamentos públicos pichados. Atualmente, a prefeitura da capital trabalha em um projeto de incentivo ao grafite.

  

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