
Só quem já viveu na pele, tem ou teve um ente querido com câncer consegue mensurar a devastação que a doença provoca, não só organismo, mas em toda a vida do paciente e familiares. E quando essas pessoas não têm com quem contar e o sistema de saúde não funciona? Para tentar oferecer o mínimo de dignidade e conforto a pacientes de câncer carentes, organizações não governamentais (ONGs) se desdobram para conseguir doações, buscar credibilidade junto à sociedade, atender aos assistidos e – acreditem – driblar falsários que pedem doações em nomes delas.
Mas apesar de toda as dificuldades, quem se dedica a ajudar essas pessoas devastadas pela doença garante que vale a pena e que não é preciso muito. É o que afirma a assistente social Laila Aparecida dos Santos, que trabalha na Instituição de Ajuda aos Portadores do Câncer - Ágape, em Contagem, que atende a 93 portadores carentes da doença.
“Acolhimento é esperança. É gratificante poder dar um pouco de atenção para essas pessoas que além de enfrentar todo a dor que a doença provoca no corpo e na mente, o câncer devasta a vida social das pessoas e muitas perdem tudo, recursos financeiros e até apoio da família. Então aqui minha prioridade é dar atenção a eles, não posso pedir que me aguardem cinco minutos, tenho que ouvi-lo na hora. Muitas vezes eles querem apenas ser ouvidos”, explica a assistente social.
Ela conta que um dos problemas enfrentados pelos portadores de câncer é o preconceito e a falta de informação das pessoas. Ela recorda um caso de uma mulher que, depois de 40 anos de casamento, foi deixada pelo marido por ter desenvolvido a doença. “Depois de passar um vida juntos, ele vira e diz para ela: ‘Você está podre’. É um absurdo que até hoje as pessoas acreditem que tocar num doente possa ser contagioso. Os doentes carentes precisam de dinheiro, transporte, comida e até roupa, mas o mais importante é o carinho. Poder dar a chance deles desabafarem já é reconfortante”, afirma.
Uma história semelhante é de L. R., que desenvolveu um câncer sob a arcada dentária e que se alastrou para a garganta. “Sentia muita dor na boca e quando descobri minha doença, meu marido me abandou com meus três filhos, que na época tinham dois anos, oito meses e o caçula com apenas 13 dias de vida. Tive apoio da minha família, mas foi em uma casa de assistência que consegui conforto e atendimento, para me manter viva”.
A oncologista Patrícia Piancastelli é enfática sobre os benefícios que o acolhimento trazem aos pacientes com câncer. “O fator emocional pesa muito neste momento. Percebo na minha rotina que os pacientes com maior desequilíbrio emocional toleram menos os tratamentos, apresentando mais complicações e efeitos colaterais. Quem quiser colaborar não deve se intimidar. Há várias formas de ajudar. Uma delas é ir a uma instituição e conhecer o trabalho realizado. Veja em que cada um pode ser útil e quanto do seu tempo ou dinheiro poderá ser destinado a ajudar. Uma coisa é certa, o retorno deste ato é muito maior”, garante a médica.