(Leonardo Morais)
Aos 74 anos, a aposentada Terezinha Barbosa Dornelas ainda sonha com o dia em que terá água gelada, televisão e um ventilador para afastar o calor e os pernilongos na hora de dormir. Moradora da zona rural de Periquito, no Vale do Rio Doce, ela tem vida semelhante à de dezenas de produtores rurais de Minas Gerais que ainda não conseguiram ter luz elétrica em casa, embora o prazo para a Cemig universalizar o benefício tenha vencido em dezembro de 2014. Velas e lanternas não podem faltar no velho barracão de madeira que será substituído, em breve, por um de alvenaria. Mas o conforto continuará limitado: sem luz para alimentar a bomba que encherá a caixa, a água continuará sendo tirada da cisterna com a ajuda de uma engenhoca que exige força e disposição. “Não temos idade pra isso mais”, reclama, contando que a fumaça produzida com a queima de panos velhos e casa de cupim para afastar os pernilongos já compromete a saúde. Pelo mesmo sofrimento passa o motorista José Ferreira dos Santos, que tem seis filhos e um neto. A casa dele fica a cem metros da sede do distrito Serraria e não tem energia elétrica. Por falta de luz, os filhos foram saindo de casa aos poucos. “Os governos pregam que é preciso fixar o homem no campo, mas nem luz dão para a gente”. Para matar a sede dos poucos animais que tem, Santos gasta R$ 80 por mês com a gasolina que alimenta a bomba. “Há 15 anos, tento colocar luz. Já telefonei e fui à Cemig em Ipatinga e Governador Valadares várias vezes, mas nada”, diz. Para ele, a maior revolta é ver o poste que alimenta várias propriedades vizinhas com luz instalado no terreno dele. “Por que eu não posso? Qual é o critério?” questiona. O Hoje em Dia procurou a Cemig para comentar o assunto, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.