O mercado de trabalho reflete os acontecimentos recentes da economia brasileira. Primeiro foi a recessão histórica, por dois anos seguidos. Agora, a dificuldade para retomar um crescimento mais vigoroso. A greve dos caminhoneiros foi um ponto de ruptura, assim como a delação da JBS no ano passado. Em relação à greve, há um efeito concreto em termos de atividade.
Tanto que as projeções de expansão da economia não pararam mais de cair. O mercado já prevê, na média, avanço de apenas 1,55% este ano, como mostrou o relatório Focus, do Banco Central, divulgado hoje. Mas, além do impacto sobre produção e preços, teve uma forte influência negativa sobre as expectativas, sobre a confiança dos empresários, o que atrapalha as decisões de investimento, ampliação dos negócios e, consequentemente, de contratações. Movimento reforçado pelas incertezas quanto às eleições.
A economia está em “ponto morto”, o que só prejudica o mercado de trabalho. O ritmo de recuperação do emprego vem caindo desde o começo do ano. Isso impõe dificuldades maiores para quem está chegando ao mercado, os mais jovens, e, também, para os mais velhos que, tendo emprego, diante das dificuldades financeiras, acabam trabalhando mais, até para sustentar toda a família. É nítida a tendência de os mais jovens ficarem mais tempo morando com os pais. Muitos partem para o empreendedorismo. Mas, até por aí, as condições da economia impõem limitações.
O Brasil, tradicionalmente, tem um ambiente de negócios complicado, com muita burocracia, lentidão dos órgãos públicos, financiamento caro e carga tributária elevada. Mas é preciso observar também, no caso dos idosos, que muitos se aposentaram cedo, com o fator previdenciário reduzindo boa parcela do benefício que poderiam receber. Tiveram um reforço no orçamento, mas uma aposentadoria mais baixa, para o resto da vida. Pra muita gente, se aposentar mais cedo significou um comprometimento de renda que impede, agora, a aposentadoria de fato.