O campo dá negócio: setor agro tem potencial, mas enfrenta entraves de infraestrutura e mercado

Lucas Simões
10/04/2019 às 20:41.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:11
 (Luiz Costa/Arquivo Hoje em Dia)

(Luiz Costa/Arquivo Hoje em Dia)

Com bom desempenho no início deste ano, tendo alta de 1,6% nas exportações do primeiro trimestre, o agronegócio mineiro tem sido a contrabalança financeira de Minas, diante da crise da mineração, principal atividade do Estado. Ao representar 30,4% de todas as exportações do Estado, impulsionado principalmente pelo bom desempenho do café, o setor tem atraído a atenção da gestão Romeu Zema (Novo) como alternativa à atividade minerária, ainda que tenha entraves logísticos e de mercado pela frente.

No acumulado dos três primeiros meses do ano, o agronegócio contribuiu sozinho com 44% do saldo positivo da balança comercial de Minas, que compreende a diferença entre o valor das importações e exportações. Ao todo, as exportações do setor chegaram a US$ 1,75 bilhão em três meses, contra US$ 1,72 bilhão no mesmo período do ano passado.

O principal motor desse cenário foi o café, que representa nada menos do que 56% de todos os ganhos com produtos comercializados em Minas. O valor total arrecadado com a exportação das safras cafeeiras foi de US$ 995 milhões em três meses, um aumento de 22% em relação ao mesmo período do ano passado.

Para o subsecretário de Política e Economia Agrícola da Secretaria de Agricultura (Seapa), João Ricardo Albanez, a ideia do governo é que o desempenho seja ainda melhor, com a intensificação do acréscimo de valores agregados nas exportações do setor.

“Nós temos o segundo maior rebanho bovino, o primeiro maior de equinos. Temos um potencial enorme. Mas precisamos agregar mais valor à produção: por exemplo, 30% do leite produzido no Estado é vendido para ser processado fora. O café que vendemos para a Alemanha é 100% processado lá e revendido. Ou seja, precisamos agregar valor, processar os produtos aqui. É aumentar ganhos e manter as exportações em alta”, avalia Albanez.

Atualmente responsável por 30% do PIB de Minas, o setor do agronegócio tem sido olhado como uma potencial porta aberta para preencher ao menos parte da lacuna deixada pela mineração, impactada pelo rompimento das barragens da Samarco e da Vale e pela paralisação de várias minas após as tragédias.

“Quase metade do saldo da balança comercial é proveniente do setor, e o café tem uma importância fundamental. A gente vê a importância do agronegócio em Minas, principalmente nesse momento em que temos sentido a mineração impactada. É uma alternativa, claro”, avalia Albanez.

Segundo projeções do economista Raimundo de Sousa Leal Filho, da Fundação João Pinheiro (FJP), a crise da mineração, devido aos desastres em Mariana e Brumadinho, vai afetar em até 20% o Produto Interno Bruto (PIB) de Minas até o fim deste ano. Hoje, a mineração ainda é responsável por 60% do superávit estadual.

De acordo com o economista, a previsão é que para cada dez toneladas de minério de ferro que deixam de ser produzidas no Estado, 0,1% do PIB caia. “É uma relação direta que vem acontecendo desde Mariana e foi intensificada por Brumadinho. Mas o bom desempenho do agronegócio, especialmente do café, mostra que é possível não ser dependente da mineração”, avalia o economista.

No país, perda por logística ruim é de R$ 2 bilhões ao anoApesar do bom momento em Minas Gerais, o setor do agronegócio ainda enfrenta os desafios relacionados ao incremento da infraestrutura e logística para escoar a produção e fortalecer também a agricultura familiar internamente.

Dados da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) apontam que a produção brasileira, em geral, tem uma perda de R$ 2 bilhões por ano com ações logísticas malsucedidas — não há dados regionais. 

Além disso, a Abag, em nota técnica, criticou no ano passado os cortes em recursos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que teve 50% dos cargos comissionados extintos, aliada a uma redução drástica das unidades de pesquisa, de 15 para apenas seis centros técnicos no país.

“É uma empresa fundamental que ajuda no fomento das tecnologias e principalmente nas ações de infraestrutura e logística. Os cortes certamente prejudicam um trabalho melhor, mais econômico e mais viável da produção brasileira, principalmente o agronegócio, que precisa escoar uma grande produção para o exterior. Mas também afeta a agricultura familiar, por exemplo, que acaba estagnada por falta de incentivos”, avalia a professora e especialista em comércio exterior Jane Noronha, da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG). 

Na contramão dessa análise, Minas tem tentado fortalecer as iniciativas de agricultura familiar, como forma de movimentar o agronegócio também internamente — além do comércio exterior. 

A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater) preparou um investimento de R$ 4 milhões diluídos entre o ano passado e 2019, em ações que devem beneficiar cerca de 700 produtores rurais no Estado. A verba tem sido usada basicamente na compra de equipamentos e também para facilitação do escoamento da produção e divulgação dos produtores.

“Criaram uma versão de que o agronegócio é só para exportação, mas o agricultor familiar também está inserido nesse contexto. A agricultura familiar trabalha com produtos de primeira necessidade, da cesta básica. Estamos em uma perspectiva de fortalecer os circuitos para esses produtos. Por exemplo, um produtor de bananas deve ter acesso a feira livres próximo a sua unidade de produção”, avalia o subsecretário de Política e Economia Agrícola da Secretaria de Agricultura (Seapa), João Ricardo Albanez.

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