Fabíola Moulin*
Seis anos após o rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, os prejuízos causados pela lama ainda permanecem evidentes no solo, nos cursos d’água e na vida das pessoas. Foram lançados sobre Brumadinho mais de 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos, que impactaram nascentes, soterraram matas ciliares e comprometeram o rio Paraopeba — fonte essencial de abastecimento para diversas comunidades. Levantamentos da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) detectaram níveis alarmantes de metais pesados, tornando diversos trechos da bacia inviáveis para consumo humano, irrigação ou atividades recreativas. A fauna e a flora locais foram profundamente afetadas e ainda há áreas interditadas, cujos ecossistemas não conseguiram se regenerar.
O Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado em 5 de junho, é um convite à reflexão sobre os limites das nossas escolhas enquanto sociedade. Que futuro queremos para o planeta e para as próximas gerações? A discussão ganha força em um cenário marcado por desequilíbrios ambientais cada vez mais visíveis. O Brasil, com sua imensa riqueza natural, precisa repensar formas de conciliar desenvolvimento e preservação. Setores produtivos como o extrativismo mineral têm papel relevante na economia, mas exigem novas práticas, mais responsáveis e sustentáveis. Esse debate já está presente na agenda ambiental global — e nos convida a buscar caminhos que respeitem os limites da natureza, assegurando qualidade de vida no presente e no futuro.
Em Brumadinho, a tragédia do dia 25 de janeiro de 2019 impõe uma reflexão diária — sobre vidas interrompidas, sobre o impacto ambiental e sobre as responsabilidades que dela decorrem. É nesse lugar, marcado por tantas perdas, que foi erguido o Memorial Brumadinho — um espaço que preserva a memória das 272 vítimas e promove o debate sobre sustentabilidade e responsabilidade ambiental.
Mais do que um memorial físico, ele se propõe a ser ferramenta de conscientização. Sua arquitetura, as exposições e as ações educativas revelam como memória, território e meio ambiente estão profundamente conectados. As tragédias que atingiram Brumadinho — e outras localidades brasileiras — não foram meros infortúnios, mas consequências diretas de decisões econômicas que colocam em risco a vida e os recursos naturais.
O Memorial Brumadinho é fruto da mobilização das famílias atingidas, reunidas na Avabrum, com o apoio do Ministério Público de Minas Gerais. Sua manutenção é realizada pela Fundação Memorial de Brumadinho, com gestão independente e sem utilização de recursos da Fundação Renova ou do acordo judicial firmado com as empresas envolvidas. Desde sua criação, o Memorial vem se consolidando como um espaço que transforma dor em ação, com a missão de honrar a memória das vítimas e evitar que tragédias semelhantes voltem a ocorrer.
Neste 5 de junho, diante dos desafios ambientais que o Brasil enfrenta, é preciso relembrar o passado para traçar novos caminhos. Compreender que tudo que a lama destruiu, a memória floresceu. E com ela, a urgência de um compromisso coletivo com a vida e com a natureza.
*Diretora Presidente da Fundação Memorial de Brumadinho