Antes tarde do que nunca

22/02/2018 às 19:54.
Atualizado em 03/11/2021 às 01:31
 (Bruno Cantini/Atlético/Divulgação)

(Bruno Cantini/Atlético/Divulgação)

Bruno Cantini/Atlético/Divulgação / N/A

  Depois dos jogos contra América e Botafogo-PB, o Atlético finalmente, ao que tudo indica, não precisará mais dormir no sofá da sala. Explico: o time que o Galo montou em 2017 e o estilo de jogo adotado até outro dia, com Oswaldo de Oliveira no comando, pareciam um desses casais que todo mundo conhece, que vivem às turras, mas que insistem em manter a relação. As partes sofrem, enchem o saco dos amigos mais próximos com a ladainha de sempre e uma esperada solução nunca vem. Primeiro foi a lentidão dos jogadores, apesar de Roger Machado ter tentado dar mais velocidade ao grupo no ano passado. Acabou vendo a turma de língua para fora e perdendo para adversários fáceis como Jorge Wiltersmann e Londrina. Foi preciso esperar mais de um ano e três técnicos serem demitidos para o Atlético descobrir o esquema tático ideal quando tem no time principal um jogador como Elias. Sim, esse fuzuê todo se deve primordialmente à chegada do camisa 7, que é tudo, menos volante. Nos tempos de meu pai, fã do futebol italiano, ele seria o trequartista, posição quase extinta. O trequartista fica à frente dos volantes, distribui jogadas e, muitas vezes, finaliza, vindo de trás. Seria um “Denorex” do armador de hoje – parece, mas não é. Papai gostava de dizer, apontando para o italiano Roberto Baggio, que o jogador “operava no vazio entre o meio-campo e a defesa do outro time”. Exatamente como Elias faz, com bastante liberdade para marcar, armar e atacar. Um jogador como esse não é só difícil de encontrar como também de encaixá-lo. Dizem as más línguas que o técnico Alex Ferguson teve a chance de contar com o francês Zidane no Manchester United, mas preferiu abrir mão por não saber como aproveitá-lo em campo. E é fácil imaginar os motivos ao ver o desempenho do Atlético AE e DE – antes e depois de Elias. Em 2016, o alvinegro foi vice-campeão da Copa do Brasil e se classificou para a Libertadores porque mantinha dois volantes mais clássicos – embora Júnior Urso também gostasse de chegar à frente. Mas sempre havia a possibilidade de ter um Donizete para, junto com Rafael Carioca, mostrar quem manda na defesa. Com Elias no time, o setor ficou bem sobrecarregado. Sem jogadores de ataque com pulmão suficiente para voltar e recompor, o que se viu em 2017 foi o pior dos últimos seis anos do Galo, só comparável a 2011. Por isso que, além da economia de custos, a nova diretoria aproveitou para mudar a cara da equipe, tornando-a mais jovem e apostando em velocistas. Mas só o interino Thiago Larghi alterou de fato a maneira de jogar. No clássico estadual e na partida da Copa do Brasil, em João Pessoa, o Atlético passou a ser um time de contra-ataque, o que está longe de dizer que virou um desses clubes que jogam fechadinhos à espera de uma bola que pegue a defesa adversária de calças na mão. Está mais compacto, indo para o ataque em jogadas rápidas e mortais, construídas a partir de poucos e longos passes. E deu gosto de ver novamente os lançamentos e cruzamentos feitos na medida, como Ronaldinho Gaúcho e Dátolo gostavam de fazer nos áureos tempos. Como naquele grupo, havia uma clara vontade de construir e marcar os gols, sem medo de entrar na área para driblar ou tabelar. Um Atlético intenso e veloz, capaz de manter uma relação mais duradoura com os bons resultados. 

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