O que nos resta

17/05/2018 às 18:23.
Atualizado em 03/11/2021 às 02:54
 (Bruno Cantini/Atlético/divulgação)

(Bruno Cantini/Atlético/divulgação)

Bruno Cantini/Atlético/divulgação / N/A

   Futebol entra na vida da gente como se fosse um integrante da família, como um filho que gostamos de acarinhar ou no papel de um tio chato que nos atormenta frequentemente com as suas piadas sem graça.  Cada torcedor carrega uma história particular de devoção – como uma promessa a ser paga subindo de joelho os degraus de uma longa de escada chamada clube do coração – e loucura, entre o sacro e o profano. Ver meu filho, no alto de seus quase 22 anos, chorando após Victor tocar na bola, na última cobrança de penalidade, e esta resvalar na trave e voltar para dentro do gol, aflora a sensação de impotência e raiva.  Não é o caso de culpar Deus por nos tirar a possibilidade de novo milagre, com uma bola que poderia tomar outro sentido que não o gol. Victor não perdeu seus super-poderes e continua sendo o número 1 de todo atleticano. Não é o caso de culpar o destino por tirar Fábio Santos do time no último minuto, justamente o primeiro jogador na lista de cobradores. Com a troca por Ricardo Oliveira, a série foi aberta com um pênalti perdido. Uma substituição que alterou a ordem das coisas. Estávamos acostumados a um título por ano, mas parece que o máximo que chegaremos é em 2011, numa dolorosa viagem no tempo. Neste momento de amargura, parece-nos muito longe, até para o atleticano mais otimista, a taça do Campeonato Brasileiro. Para o pessimista, só falta uma derrota acachapante no clássico. Uma ruptura na linha temporal que nasce de um processo de mudança tão profundo e acelerado, com a saída de muitos jogadores (que continuou até a semana passada) e baseado em futurolgias que podem dar em nada. A própria condição de interinidade do treinador reflete o time que tem em mãos: provisório, uma legião de emprestados com atuações que oscilam como uma corrente alternada, variando no tempo. Ao apostar na juventude, como se ela sozinha desse conta do peso de uma história de tamanha tradição, repetimos a lenda do deus Saturno, que devorava todas as crias assim que vinham ao mundo. Faltam 33 rodadas para o Brasileiro terminar, como uma contagem regressiva lenta e angustiante em que um vice-campeonato não nos bastará – a impressão será sempre a de ter faltado algo. Trinta e três é o número do paralelo em que foi detonada a primeira bomba atômica da História. Que seja, então, uma explosão única de alegria em que, a partir de agora, vale o refrão “vencer, vencer, vencer”. Só assim para tirar deste time a condenação eterna do fracasso, do ocaso. Que comece pelo arquirrival a transformação, iniciando as 33 voltas sequencias que formam o DNA – o do verdadeiro Galo campeão. Há poucos dias, o clube parabenizou Tardelli pelos seus 33 anos recém-completados. Que seja ele então a metralhadora a derrubar, neste 2018, nossas frustrações e dissabores. E se 33 é um número cabalístico, que surge ligado ao destino da humanidade, que venha então uma mudança tão avassaladora, capaz de levantar o mais desanimado dos atleticanos. Somente o troféu do Brasileiro apagaria a dor e a raiva de um pai que viu seu filho chorar por três perdas de títulos em pouco mais de um mês. Que a esposa de Saturno lhe dê, enfim, a pedra para estancar essa imolação.

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