Pachacúti do Galo

01/02/2018 às 11:41.
Atualizado em 03/11/2021 às 01:05
 (Bruno Cantini/Atlético/divulgação)

(Bruno Cantini/Atlético/divulgação)

Bruno Cantini/Atlético/divulgação / N/A

  

Copa do Brasil não é Libertadores, mas podemos fazer de conta. São tantos times que mal conhecemos, de sotaques diferentes, e viagens para os rincões do país que não deixa de ser um encontro com o estrangeiro – o lugar e o adversário.

Não sabia, por exemplo, que havia um Atlético no Acre, com quem confrontaremos na primeira fase. E o que dizer sobre a mascote deles, um galo? Parece coisa de filme, um portal aberto em que vamos nos deparar com o nosso “eu” numa dimensão paralela.

Quase todas as equipes que adotaram o galo como mascote – em torno de 30 no Brasilzão – se inspiraram no Galo mineiro. Não sei se é o caso do Atlético do Acre. Se for, o autor da cópia devia sofrer de daltonismo, tendo em vista a cor do uniforme deles (azul e branco).

Quem gosta de ficção científica sabe que, em outras dimensões, os sentimentos e as ações se invertem. Se for bom numa, na outra será mau. Só assim para imaginarmos uma melhora na defesa mineira, hoje lenta, mal postada e motivo maior de nossos pesadelos.

Os dois gols tomados contra a Patrocinense quase foram um repeteco, com a bola alçada entre Leonardo Silva e Samuel Xavier. Era uma espécie de déjà vu. Para quem acompanhou a temporada de 2017, é como ser condenado a andar em círculos eternamente.

O mistério em torno do Atlético-AC nos deixa com a pulga atrás da orelha. Como um dia o Estado já foi território da Bolívia e o trauma da última Libertadores ainda está bem vivo, nosso receio é encontrar um novo Jorge Wiltersmann pela frente.

Temor que se só aumenta quando lembramos que o Acre é um grande exportador de borracha. Não custa nada o Galo sofrer um novo apagão, como foi contra os bolivianos em 2017. Se na casa do adversário o problema foi a altitude, no Mineirão faltou atitude.

Pelos últimos jogos, o Atlético resolveu modificar a regra do futebol, diminuindo de 90 para 45 minutos o tempo de uma partida. Ao voltar do intervalo, um botão é automaticamente acionado e o grupo entra no modo “treinamento”.

Independentemente do início ruim de temporada, ao torcedor resta fazer igual a Carlitos no filme “Em Busca do Ouro”, enxergando um par de botas como um prato delicioso. Assim, a Copa do Brasil vira uma apetitosa Libertadores.

O rival atleticano tem a nos oferecer duas horas de diferença no fuso horário e passagem para o oceano Pacífico, a partir da rodovia Interoceância, que liga o Acre ao litoral sul do Peru, passando ao lado do lago Titicaca.

Se nada acontecer como esperado, do estádio Arena da Floresta já podemos seguir direto para o Titicaca depositar nossas frustrações. O lago é berço da civilização inca, que foi instruída pelo deus Sol (chamado de Inti) para morar no local.

Diz a lenda que Inti criou e destruiu os homens, tornando a pô-los no mundo a partir da pedra. Este momento de reconstrução era conhecido como Pachacúti, tempo de grandes transformações. Os incas eram otimistas: depois do Pachacúti vinha a bonança.

O atleticano mais fervoroso, à espera de um novo “Eu acredito!”, presume que esse Pachacúti só passará quando Valdívia sair. Para quem não sabe, Valdívia, a cidade chilena, afundou dois metros após o Grande Terremoto, em 1960, a maior ruptura tectônica da história da humanidade.

Valdívia, o jogador, talvez seja o maior símbolo da falta de engenharia sísmica do Atlético. Abalada pela saída de nomes importantes, a equipe faz de conta que é um Grêmio, gastando pouco e apostando em renegados para ganhar a Libertadores brasileira.

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