As escolhas de Temer

19/05/2016 às 21:44.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:31

Paulo Paiva (*)

Ficou consagrada como a “escolha de Sofia” a dramática história narrada no clássico romance de William Styron de uma mãe judia acusada de contrabando e, quando presa com seus dois filhos pequenos no campo de concentração de Auschwitz durante a II Guerra, recebe de um cruel e frio oficial nazista a opção de escolher apenas um deles para ser salvo da execução. 

Essa expressão é usada em situações críticas que se apresentam como dilemas, quando a escolha de uma opção penaliza um e a alternativa, ao contrário, penaliza o outro.

Parece-me que o presidente interino, Michel Temer, está a enfrentar algumas escolhas difíceis, senão dramáticas para seu governo.

De início, o novo governo vai marcando posição para se diferenciar do que foi afastado. Duas são nítidas escolhas.

Uma, dando aos ministros maior autonomia para conversar com a imprensa e com a população. Por exemplo, o ministro do Meio Ambiente tão logo tomou posse veio visitar Mariana e conversar com a população afetada pelo acidente da barragem da Samarco. Ato impensável no governo altamente centralizador de Dilma Rousseff.

Outra, a clara opção pró-mercado, com atitudes e declarações de apreço à livre iniciativa, tais como a nomeação de Henrique Meireles, declarações sobre privatizações e concessões, sobre reformas, como a trabalhista e da Previdência Social, sobre cortes de gastos públicos e parcimônia nas considerações sobre aumento de impostos. Tudo na contramão do governo que saiu.

Mas quando passar da retórica para a prática, as escolhas serão bem mais complexas.

O presidente interino tem um prazo curto, no máximo dois anos e meio, e muitas expectativas e demandas para atender. Há que fazer escolhas.

Se, do lado do mercado, há expectativa de recuperação da confiança no governo, quando medidas mais concretas de ajuste fiscal e de estímulos ao investimento sejam implantadas, do lado da população, há receio de que programas sociais serão cortados. 

Se do lado da sociedade, há expectativa de governo eficiente e transparente, do lado político, o caminho parece ser da reprodução de alianças partidárias que redundaram no mensalão e no petrolão.

O presidente optou por fortalecer um tipo informal de semipresidencialismo, compondo seu gabinete com parlamentares das duas casas do Congresso, o que lhe poderá oferecer maior possibilidade de construção de maioria para aprovar as matérias de interesse do governo.

Contudo, onde ele irá colocar o seu capital político? Na economia, com reformas como a da Previdência Social, que agrada o mercado e é importante para a sustentabilidade fiscal futura, mas que sofre enorme resistência de trabalhadores e aposentados e não tem impacto imediato? Ou na reforma política que ofereceria um sistema político-eleitoral com poucos partidos, maior representatividade eleitoral e riscos menores de corrupção? Mas como fazê-lo, se depende do Congresso? 

Não são triviais nem tão pouco simples as escolhas de Temer. E o tempo não é seu aliado.

(*) Professor da Fundação Dom Cabral; ex-ministro do Trabalho e do Planejamento e Orçamento no governo FHC

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