O Partido Novo precisa fazer política

27/01/2020 às 18:29.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:26

Aristóteles Drummond

O Partido Novo é, possivelmente, o de programa mais moderno entre tantos, com uma linha liberal definida e revelando alguns parlamentares de excelente desempenho no Congresso. No entanto, corre alguns riscos para consolidar sua posição e se apresentar como o mensageiro do progresso, econômico e social, pois ambos andam juntos nas democracias. 

O primeiro risco é ter o amadorismo em política como verdadeiro dogma e isso pode levar seus idealistas a programarem o crescimento da legenda para décadas e décadas quando o país tem pressa. Experiência é importante em política e os maus políticos não são maioria. Muitos convivem com os ruins justamente pela falta de um porto seguro na constelação partidária. E este porto deveria ser o partido, que, não entendendo assim, rejeita políticos tradicionais por mero preconceito, pois os bons nunca foram questionados por malfeitos.

O sr. João Amoêdo é um idealista, um pouco messiânico para a realidade nacional, que insiste no isolamento, que torna uma aventura  romântica o engrossamento de suas fileiras. E, nos principais centros, não foi capaz de arregimentar lideranças para as disputas municipais, inclusive no empresariado, que já forneceu bons gestores públicos no passado. 

Um de seus parlamentares, o gaúcho Marcel Van Hatten, jovem e brilhante, já ganhou dimensão nacional, apesar de contar praticamente com as redes sociais e a TV Câmara. E a bancada apresentou o maior índice de assiduidade e de economia na verba de gabinete. Mas falhou ao ceder às esquerdas nas críticas ao excelente ministro Ricardo Salles, filiado ao partido. Política se faz com confiança e solidariedade aos bons. E Salles é o melhor que há. 

O segundo risco seria um fracasso em termos de gestão e popularidade de seu único governador, o de Minas Gerais, unidade da federação de maior referência política na República desde sempre. Embora tenha sinalizado amadurecimento ao levar para o Palácio um político com a respeitabilidade e tradição do deputado Bilac Pinto, pouco progrediu depois e as medidas mais importantes patinam na Assembleia Legislativa.

O governador confunde ainda a liturgia do cargo, inclusive na sua apresentação, por vezes, por demais descontraída, fugindo das solenidades que o cargo ou alguns atos públicos exigem. E os mineiros gostam.

É uma pena um projeto bonito, com um programa impecável para a busca do regime de meritocracia que todos sonhamos, assumir uma postura isolacionista. Esta pode ser interpretada como indiferença aos homens que se dedicaram sempre a uma vida pública ilibada, como os antigos parlamentares ou, no caso mineiro, um grupo de filhos e netos de grandes homens públicos, que honram as lições de seus maiores. 

Diria que não é arrogância, mas sim ingenuidade e inexperiência, pouco conhecimento da biografia de nossos homens públicos, do Império aos dias atuais.

Escritor e jornalista

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