O tabu do exame do toque

06/11/2017 às 06:00.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:33

Leonardo Pimentel (*)

É muito comum ouvirmos dizer que homem só vai ao médico quando está doente, ao contrário das mulheres, que procuram suas ginecologistas regularmente para fazer o exame de Papanicolau – essencial contra o câncer de colo do útero. Já a resistência que eles têm na hora de fazer o exame de toque retal exemplifica esse comportamento de postergar ou evitar uma consulta médica, que tem como objetivo a prevenção.

O câncer de próstata é a segunda maior causa de morte pela doença no Brasil, entre homens, atrás apenas do câncer de pulmão. O tumor na próstata leva a uma média de 13 mil óbitos por ano no país. Esses dados deveriam ser suficientes para não medirmos esforços para prevenir e diagnosticar precocemente essa doença. Entretanto, para 21% dos brasileiros, o exame do toque “não é coisa de homem”, segundo pesquisa Datafolha divulgada recentemente. O tabu envolto a uma consulta médica de alguns minutos vence a briga contra o câncer para essa parcela de homens.

Esse procedimento, que causa tanta aversão para alguns, é feito pelo médico da seguinte maneira: o profissional introduz o dedo indicador (protegido por luva) no ânus do paciente para tocar a parte anterior do reto, onde está a próstata, verificando se há qualquer inconformidade na região. De fato, pode parecer – e ser – desconfortável, mas são alguns segundos na vida do paciente que refletem em um cuidado minucioso com a saúde.

A porcentagem de homens que rejeitam essa investigação sobre a saúde foi descoberta na pesquisa que foi encomendada pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), pelo Instituto Oncoguia e pela farmacêutica Bayer, e realizada entre junho e julho deste ano em sete capitais brasileiras. A enquete contou ainda com a participação de jogadores de futebol. Assim, foram entrevistados 1.062 homens com 40 anos ou mais que estiveram em estádios de futebol.

Outro dado preocupante revelado pelo levantamento é que 38% dos homens com mais de 60 anos – que têm maior risco de ter a doença – afirmam que o exame “não é necessário”. A opinião dessa parcela dos brasileiros só reforça a importância da informação, a mais poderosa aliada contra o câncer. Para vencer a doença, é preciso fazer, sim, exames de rotina e, quanto antes ocorrer a descoberta de um tumor, maiores são as chances de cura.

Na consulta de rotina, além do exame físico, o médico deverá solicitar a análise do nível de PSA – ou Antígeno Prostático Específico, substância produzida pela próstata – no sangue. Em casos mais específicos, o paciente deverá realizar outros exames, como tomografia computadorizada e ressonância magnética. Em caso de suspeita, é feita a biópsia para confirmar se o tumor é maligno ou não.

É interessante observar que a pesquisa Datafolha foi realizada com homens que estiveram em estádios de futebol. O meio do esporte, de fato, é recheado de polêmicas sobre condutas daquilo que são ou não “de homem”. Entretanto, é preciso refletir se um exame, realizado por um médico em consultório, com o objetivo exclusivo de foco na saúde do paciente, é tão nocivo assim para qualquer noção de masculinidade.

(*) Radio-oncologista do Radiocare – Centro de Radioterapia do Hospital Felício Rocho

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