Retrocesso em Minas

06/05/2016 às 21:49.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:19

Aristóteles Drummond (*)

O que se passa em Minas Gerais é da maior gravidade. E a dimensão da crise nacional faz com que a situação fique confinada aos mineiros, sem o pleno conhecimento dos brasileiros e especialmente dos mineiros que moram em outros estados.

A campanha de 2014 está em estranho e demorado julgamento no TSE, quando, pelo já publicado, seria inquestionável o afastamento da chapa tida como vencedora. Comprometimento em dezenas de episódios amplamente comprovados, inclusive nas delações premiadas de processos como Zelotes, “Lava-Jato” e outros. O resultado eleitoral em Minas foi um fenômeno mal explicado até hoje. 

O caso mais recente da nomeação da companheira do governador, Fernando Pimentel, para o secretariado, como meio de criar dificuldades ao Judiciário, proporcionando foro especial à referida senhora, é uma afronta às tradições políticas de Minas, que sempre primaram pela correção e austeridade. A repercussão ficou praticamente restrita a Minas e não houve iniciativa vitoriosa como a que o Supremo Federal tomou ao suspender a posse do ex-presidente Lula, nomeado com os mesmos propósitos. Mas falta a manifestação da sociedade mineira, das entidades empresariais, culturais e liberais. A afronta a todos atinge.

Os números da economia mineira estão inferiores à média nacional, nesse derretimento a que o Brasil foi levado pela irresponsabilidade no trato do dinheiro público. Além da deslavada corrupção, que vem sendo revelada, empresas de referência, exemplares, tanto privadas como estatais, experimentam momentos negativos. O desemprego cresce, a violência urbana foge ao controle, a paz social está sob tensão e as contas, sob suspeita – inclusive nas artimanhas para o aumento de gastos com contratações e requisições. Para ficar em um exemplo, a Cemig tem uma tradição de aproveitar seus quadros, reconhecidos pela excelência em todo o setor elétrico, mas, segundo se comenta, nunca teve tantos requisitados de outros órgãos estaduais ou federais. E requisitados com inexplicáveis deslocamentos frequentes por via aérea a suas cidades de origem. Enfim, o Estado se sustenta, com muito sacrifício, pela ação competente de alguns prefeitos em cidades estratégicas, a coragem de seus empresários e a confiança daqueles que aguardam uma posição rápida em relação ao processo das contas no TSE. 

No cenário político nacional, é justo se registrar que Minas ressurge como origem de notáveis na atuação do senador Antonio Anastasia, sereno, sólido, elegante na relatoria da aceitação do impeachment aprovado na Câmara dos Deputados. Assim como o senador Aécio Neves, numa postura de oposição responsável e de exemplar espírito público no que toca ao apoio ao governo Temer. 

Teve a coragem de afirmar, inclusive para companheiros, que não aceita política feita na base do toma lá, dá cá. Esta resistência é que mantém os mineiros atentos ao desenrolar dos acontecimentos, conscientes da importância de uma tomada de posição quando das eleições, uma vez que os riscos de graves dificuldades são imensos. As próximas semanas podem apontar para um novo rumo – não só para o Brasil, mas também para Minas Gerais. Seria, portanto, um absurdo a impunidade diante de tantas provas e tanta impostura!

(*) Jornalista e escritor

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