Inflação e Desemprego

10/01/2018 às 20:11.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:42

Testemunhei no rádio, nesta semana, o desconforto de uma das mais badaladas jornalistas econômicas do Brasil com o fato de que os ouvintes não acreditam quando ela fala que a inflação brasileira está baixa. Como ela mesma esclareceu, isso acontece porque as pessoas não estão conseguindo perceber qualquer bem-estar, em decorrência, em particular, do desemprego elevado e dos salários baixos.

Em minha opinião, a política monetária é apenas mais uma das políticas que devem estar submetidas ao escrutínio do eleitor. Assim sendo, sou muito crítico da chamada “autonomia do Banco Central”, pois esta significa a irrelevância do eleitor, porém não dos agentes do “mercado”.

Todavia, uma coisa é preciso reconhecer, onde o Banco Central tem autonomia – como é o caso dos EUA – há, ao que me consta, uma determinação legal de que este deve se preocupar com dois elementos ao definir a taxa básica de juros: a inflação e o desemprego. No nosso caso, temos um Banco Central caolho, ou seja, que, embora teoricamente não autônomo do escrutínio popular, se submete à vontade do “mercado” (ou dos rentistas) com uma disciplina ímpar e só se preocupa com a taxa de inflação.

A maior evidência de que o nosso Banco Central não leva em consideração o desemprego é que mantém a quarta taxa real de juros mais elevada do mundo, apesar de a inflação ter ficado abaixo do limite inferior da meta e da taxa de desemprego estar próxima do dobro do que era antes do início da crise econômica atual. Só há uma explicação para essa total insensibilidade com os mais de 12 milhões de desempregados do Brasil: a total submissão do banco central ao rentismo da plutocracia brasileira. Dos países com taxa real de juros superiores ou semelhantes à brasileira, nenhum tem um quadro tão favorável à redução dos juros.

De um lado, têm-se países como Argentina e Turquia com inflação de dois dígitos. De outro, casos como os de Rússia e Indonésia, onde a taxa de desemprego é inferior à metade da brasileira. Com o atual quadro de inflação muito baixa e desemprego muito alto, o Brasil deveria estar com taxa de juros reais negativa, como ocorre na esmagadora maioria das 40 maiores economias do mundo (a média neste grupo é de uma taxa real de juros de -0,10%). O fato de isto não ocorrer revela a capacidade de controle que os rentistas têm sobre o Estado brasileiro.

Uma taxa de juros real negativa hoje no Brasil permitiria não apenas uma redução significativa do desemprego, como também do déficit público. Afinal, a maior despesa do Estado brasileiro é com o pagamento de juros da dívida pública. Todavia, para isso ocorrer, seria preciso priorizar o trabalhador ao rentista, o que não vem acontecendo. Isso tem um alto custo político e a conta chegará nas eleições!

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