O Ataque à Universidade Pública

14/12/2017 às 19:27.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:15

Nas sociedades capitalistas modernas, há duas formas principais de reprodução intergeracional dos estratos de elite. Para uma menor parte (os realmente ricos), o que interessa é a riqueza. As famílias que compõem essa elite mais econômica da sociedade garantem a reprodução das novas gerações através da transmissão de capital e outras formas de riqueza material.

Para uma segunda parte bem mais numerosa (composta, majoritariamente, pelo que, no Brasil, se costuma chamar de “classe média tradicional”), o fundamental é a educação. A reprodução intergeracional desse extrato se dá pela capacidade de conseguir uma distinção educacional e cultural para as novas gerações.

Os profissionais dos órgãos de controle do estado compõem, de modo geral, esse segundo segmento maior da elite. Ao atual isomorfismo normativo que se formou entre esses profissionais – que os faz acreditarem ser correto cometer atos arbitrários e violentos – se une um forte desconforto com os novos rumos tomados pelas universidades públicas.

A Folha de São Paulo publicou um levantamento muito interessante, nesse final de semana, sobre o desempenho de alunos cotistas nas universidades públicas, que corroborou o que os estudos anteriores já vinham mostrando: universidades públicas conseguem “agregar mais valor” aos alunos cotistas do que aos alunos não cotistas. Em outras palavras, a diferença de desempenho dos alunos cotistas (ou seja, de menor nível socioeconômico) e dos não cotistas (de maior nível socioeconômico) diminui ao longo da formação universitária (no caso do estudo da Folha, isso foi medido usando as notas do ENEM e do ENAD).

Portanto, as universidades públicas têm conseguido algo extremamente nobre, importante e difícil de fazer, ao reduzir a desigualdade de desempenho entre alunos de origens socioeconômicas díspares. Esse sucesso das universidades públicas reduz a eficácia da estratégia de reprodução integeracional do maior segmento da elite brasileira.

Talvez isso ajude a explicar por que antigamente – quando era apenas um instrumento de manutenção da desigualdade – a universidade pública não era alvo de ataques tão violentos por parte dos órgãos de controle do estado, mas hoje se tornou uma de suas principais vítimas.

P.S.: O escandaloso casuísmo político do TRF-4 de marcar com rapidez jamais vista o julgamento do ex-presidente Lula já para o mês de janeiro mostra a ansiedade em impedir sua candidatura. O tiro pode sair pela culatra! Afinal, a última pesquisa do Datafolha indicou que subiu para 29% o percentual de eleitores dispostos a votar em um candidato indicado por Lula. Esse número deve crescer significativamente após uma condenação maculada pelo casuísmo político e pela parcialidade jurídica!

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