A Falha

06/11/2016 às 11:12.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:32

Se havia alguma dúvida antes, por mais milagres que tenhamos testemunhado em quatro anos como titular absoluto embaixo do gol, após a classificação para a final da Copa do Brasil ficou mais do que provado que Victor é ídolo do Atlético, talvez um dos maiores da história centenária do clube.

O teste final, curiosamente, aconteceu numa falha, quando Erazo recuou a bola (bem forte, é verdade, e no pé ruim do goleiro) e Victor não conseguiu dominá-la, oferecendo-a de bandeja para o atacante do Internacional marcar o segundo gol, resultado que, naquele momento, levava a partida para os pênaltis.

No lugar do silencio ou das indefectíveis vaias, que muitas vezes não perdoam o craque, o Independência inteiro começou a gritar o nome de Victor, reforçando ser ele o melhor goleiro do Brasil, como sempre foi apresentado antes de a bola rolar. Um erro, por mais gritante que tenha sido, não foi o bastante para tirar essa confiança.

Em 42 anos que acompanho o Galo, não me lembro de uma relação tão bonita entre torcida e jogador. O auge, o gol, a grande defesa, o título são sempre comemorados, mas quando um erro quase põe tudo a perder, a razão passa longe e o jogador fica irrevogavelmente marcado pela arquibancada, de maneira cruel.

Victor deixou de ser uma peça em campo, como muitas vezes enxergamos uma partida, que deve ser tirada ou mudada de acordo com o seu desenrolar, para se tornar a própria essência atleticana. Intocável, mesmo nos piores momentos, pois sem ele, sem esse soldado ferido, o moral do pelotão (do time) vai até o chão.

O perdão não existe no futebol, ainda mais em solo brasileiro, em que um vice-campeonato é motivo de vergonha. Poderíamos ter perdido a partida e a classificação para a segunda final da Copa do Brasil, mas o erro e o consequente apoio da torcida só engrandeceram uma convicção, uma relação de amor.

Nos minutos finais, Victor fez uma defesa importante, devolvendo instantaneamente tanta confiança. No twitter, prometeu dar a vida para a conquista do título. Num ato de se livrar de qualquer ressentimento, a Massa reforçou o grupo alvinegro para o momento final, talvez ajudando a construir uma grande muralha.

De 2012 para cá, vimos emocionantes capítulos de sacrifício e superação, de dentro para fora, de um verdadeiro milagre acontecer em poucos minutos e contagiar toda a torcida, entre o espanto e a excitação, sintetizado no mantra “Eu acredito!”. Agora, eles partem de fora do campo, devolvendo tamanha magia.

São elementos como esse que nos fazem esperar um “terremoto” em Porto Alegre, cidade que recebeu Victor quando ele jogava pelo Grêmio, nosso adversário na final.  A tensão que vai de norte a sul está na origem de grandes tremores de terra, como a falha geológica de San Andreas, na Califórnia, nos Estados Unidos.

De acordo com cientistas, a parte sul de San Andreas está “carregada e pronta” para provocar um terremoto de forte impacto. É o que aguardamos para o dia 30 de novembro: da falha de Victor no Independência o time se encha de energia para explodir o sul, por mais que os gremistas estejam sólidos em suas defesas.

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