A Praga

28/12/2017 às 20:08.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:29
 (SHAWN THEW / EFE)

(SHAWN THEW / EFE)

SHAWN THEW / EFE / N/A

  

Estranhei quando meu cunhado Marcos desejou boa sorte ao Fred em seu novo clube. Já o vi xingando o Dadá Maravilha, em plena Praça Sete, porque o folclórico ex-jogador do Galo vestia uma camisa do Corinthians, poucas horas depois de uma derrota atleticana para o time do Parque São Jorge. Euller, o Filho do Vento, também não escapou de seus impropérios, lembrado por ter “pipocado” na semifinal do Campeonato Brasileiro de 1996, diante da Portuguesa.

Sempre esquentado, em nossos tempos de garoto Marcos se preparava para os jogos na quadra do colégio Abgar Renault como quem ia para a guerra, colocando meião em cima de meião e sedento por descontar aquele tranco que recebeu na pelada da semana anterior. O Atlético podia estar numa de suas piores fases, mas ai do rival que cruzasse o seu caminho, vítima de uma artilharia pesada que deixava os cabelos brancos do Seu Kleuber mais brancos ainda.

Marcos teria mudado, após os bons serviços prestados por Fred nos quase dois anos de Galo? Teria reconhecido, enfim, que o futebol é um emprego como qualquer outro e que essa história de amor à camisa pertencia a uma era longínqua? “O Fred pode ir para as bandas de lá, sem problema. Afinal de contas, num desses jogos no interiorzão de Minas, um zagueiro vai dar uma entrada tão dura que ele ficará o ano inteiro sem jogar”, justificou, com o rosto já ficando vermelho de raiva.

Nunca acreditei nessa história de possessões demoníacas, mas vendo o Marcos praguejar contra Fred me deu vontade de chamar aquele exorcista do filme de terror. Só faltava ele virar a cabeça em 180 graus. Nessa hora tampava o ouvido do Juju, que, com dez anos de idade, não conhecia metade dos palavrões proferidos pelo tio. Alguns deles eu tinha que procurar o significado num site especializado que disponibilizava nada mais do que 5 mil xingamentos.

Maldição do meu cunhado é tão forte como aquela história dos bastidores de “Poltergeist, o Fenômeno”, em que todo mundo que participou do filme morreu de forma estranha. Dizem o mesmo de quem veste a capa e o calção de Superman – George Reeves, o primeiro ator a viver o super-herói no cinema, se suicidou, e Christopher Reeve caiu do cavalo e ficou paralítico. Imagino o quanto as produtoras devem pagar de seguro para o ator Henry Cavill, o homem de aço atual.

No mundo dos esportes, a melhor maldição é a do jogo eletrônico “Madden”, dedicado ao futebol americano. Todo jogador que figura na capinha do estojo vive a sua pior fase na temporada seguinte. Se levarmos ao pé da letra a origem das maldições, a praga rogada pelo meu cunhado tem tudo para “pegar”. A primeira que se tem notícia é aquela que está na Bíblia, que avisa a quem provar da árvore do conhecimento do bem e do mal que “certamente morrerás”.

Trata-se de uma metáfora à desobediência e o que Fred fez, ao assinar um contrato proibindo-o de vestir a camisa do Cruzeiro, foi – diferentemente do que falam os advogados trabalhistas – justamente um ato de transgressão. Marcos quer o mesmo que Davi, que proferiu uma maldição aos montes de Gilboa (em Israel) para que ficassem estéreis para todo sempre. Não estéril do jeito que alguns pensam, claro. Mas infecundo a ponto de a bola morrer nos pés dele. Simples assim. 

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por