Como as curvas de Sonia Braga

22/10/2016 às 10:09.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:20

Marcelo Oliveira não tem cabelo nem dons divinatórios como os de Moisés, mas suas palavras pós-classificação para as semifinais da Copa do Brasil nos fazem acreditar (olha essa palavra aí de novo!) que o mar vermelho pode ser aberto novamente, como na passagem bíblica presente em Êxodo.

Não por acaso, vermelha é a cor da camisa do Internacional, nosso próximo adversário. Revanche do mata-mata da Libertadores 2015, essa travessia não terá nada de fácil, como o treinador já previu, dizendo que “todo jogo vai cair um”. É a frase-síntese da luta sangrenta que assistiremos até que se tombe o último guerreiro.

O zagueiro e capitão Léo Silva foi o primeiro, substituído pelo jovem Gabriel, cujo nome de anjo vincula-se ao mensageiro de boas novas. Foi ele quem espantou qualquer dúvida sobre sua procedência e disse “Salve Maria, cheia de graça, o Senhor está comigo”, antecipando um reino que “não terá fim”.

É esse o Galo libertador que conhecemos desde 2012. Não se passou ano que não tenhamos conquistado um título importante ou deixado de disputar a principal competição continental. Por isso todo sacrifício. Como diria Ronaldinho, faltam quatro, ao mencionar o número de jogos para levantar a taça da Copa do Brasil.

Mas não podemos tirar os olhos do Brasileiro. O título pode ser difícil, porém, diferentemente da Copa do Brasil, a manutenção do terceiro lugar garante vaga direta na fase de grupos da Libertadores. Não sei quem irá “cair” amanhã, contra o Figueirense; só sei que a única coisa que não pode esmorecer é a vontade de vencer.

Como foi na Libertadores de 2013. Lembramos do título e do jogo decisivo, mas pouco falamos das derrotas fora de casa – no mata-mata, a única vitória foi contra o São Paulo. Cenário muito parecido com essa Copa do Brasil. Até mesmo no sofrimento dos pênaltis, em que mais uma vez tivemos que contar com São Victor.

Idêntico, inclusive, pelo fato de não ter visto a partida quando o número 1 operou mais um de seus milagres - estava num hotel ecológico sem TV, contra o Tijuana. Curiosamente, também não vi o último confronto com a Ponte Preta, na fase anterior. Se continuar assim, também não poderei assistir ao duelo de quarta. E, quem sabe, o jogo fora na grande decisão.

Lembro mais de onde estava quando tive que perder o jogo. Quarta estava lançando o livro “100 Melhores Filmes Brasileiros” no Cine Santa Tereza. Tentava identificar pelos gritos vindos dos bares em volta, recebendo notícias do meu filho Breno. Foi ele que me avisou que o Galo tinha levado um gol aos 30 segundos.

Em meio ao debate sobe o filme “O Beijo da Mulher Aranha”, Breno gesticulava sobre o placar dos pênaltis, num arremedo de linguagem de sinais. Quando me sinalizou sobre a segunda defesa de Victor, troquei, sem querer, o nome do personagem guerrilheiro Valentin pelo o do goleiro atleticano.

O erro, penso agora, foi uma forma inconsciente de homenagear esse jogador que é símbolo do poder de superação do Atlético. Valentin morreu na prisão, sem delatar seus colegas de movimento, sofrendo todo tipo de tortura. Morreu feliz, sonhando estar ao lado de Sonia Braga, tão cheia de curvas quanto os caminhos da bola.

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