Contra o Flamengo, é tudo ou nada

22/09/2018 às 12:21.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:35
 (Bruno Cantini/Atlético/divulgação)

(Bruno Cantini/Atlético/divulgação)

Bruno Cantini/Atlético/divulgação / N/A

  

Não sei se meus filhos trazem em seus genes esse travo em relação ao Flamengo, um sentimento desagradável que vem desde o início da década de 80, quando o confronto pela Copa Libertadores foi decidido com a expulsão de nada menos do que cinco jogadores atleticanos de campo.

 Tinha sete anos e a TV, de tubo e algumas poucas polegadas, foi desligada na sala de casa seguida de um silêncio aterrador. Meu vizinho assobiava com o sinal característico para a gente conversar sobre o muro, mas senti que deveria ficar naquele cômodo, como se tivesse velando um corpo, pesaroso.

 Nunca mais vi algo semelhante no futebol. Hoje é comum jogadores entrarem em campo após uma marcação duvidosa. Naquele dia, Chicão e Palhinha foram expulsos. Reinaldo, nosso ídolo maior, já tinha saído aos 22 minutos, e o “Bomba” Éder também, após trombar no árbitro. Depois foi a vez de Osmar Guarnelli.

 De lá para cá, qualquer jogo contra o rubro-negro tem esse caráter de epopeia, mesmo um amistoso. A sensação é sempre de que um grande esforço se faz necessário para que Davi possa vencer a vantagem física de Golias. A conquista da Copa do Brasil, em 2014, teve esse sentido miraculoso.

 Com um gol sofrido no final do primeiro tempo e locutores cariocas já dando a fatura por encerrada, os mineiros precisavam fazer quatro para compensar esse início desalentador e os 2 a 0 tomados no Maracanã. E eles vieram de forma incontestável, mágica, um atrás do outro, garantindo o Atlético na final.

 O Galo não pode ser menos arrasador e ungido agora. A importância do jogo deste domingo não é menor do que o confronto de quatro anos atrás. Vale, para o Atlético, a ideia de que continuar lutando pelo título é um sonho que não pode ser descartado, apagando uma primeira metade de ano decepcionante para o torcedor.

 Vencer o Flamengo no Maracanã fará, como desejam os jogadores, renascer um grito há muito guardado no peito - “Eu acredito!”. Por mais que São Paulo e Internacional nos pareçam distantes na tabela, não é diferente dos 60 minutos que nos restavam para marcar quatro gols numa partida.

 Na ponta do lápis, vencendo o Flamengo, o alvinegro ainda terá 1.080 minutos para buscar fazer história. Nada melhor do que eliminar uma antiga mágoa para nos deixar novos outra vez, pronto para qualquer desafio. Seguiríamos lutando, incansáveis, como prega o hino do clube.

 O time parece ter se imbuído disso. Mesmo as falhas que acontecem surgem mais da vontade de mudar o que está dando errado. As saídas de bola de Victor são prova desta tentativa, valendo-se de um recurso pouco usado pelos adversários. Se a intenção é surpreender, que seja feita com técnica e também muita emoção.

 No domingo, quero estar em casa com meu pai e meus filhos e, no lugar do clima de velório, poder olhar para eles e dizer, passada toda a tensão que envolve esse confronto, que histórias podem ser reescritas e que, para ser campeão, também tem que saber enfrentar os maus momentos.

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