Da energia 'Caracu' à vibração de Danilo

07/02/2017 às 12:22.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:44

Twitter/Atlético / N/A 

 Meu mecânico me liga alertando que o problema está na reserva de combustível. Como é o responsável por cuidar do carro há mais de 10 anos, agora fala sem rodeios, como uma espécie de irmão mais velho, criticando a minha pãoduragem e o fato de eu sempre andar com o “cheiro” de gasolina.

Usar a reserva, só de vez em quando. Mesmo no futebol, alguns treinadores não gostam de usar a reserva, explicando que é para dar entrosamento ao time. Outros já usam demais, resultando em falhas no motor. No caso do Atlético, recorrer à reserva fez muito bem a um time que andava a 40km/h.

Como todo motorista deve saber, o motor é uma máquina que gera movimento a partir de faíscas. Sem faíscas, o carro não sai do lugar. Foi assim na semana passada, na derrota de 1 a 0 pra o Cruzeiro. Não havia faísca em nenhum setor do campo, como se tivessem substituído o motor por tração animal.

O Atlético parecia puxado por bois da raça Caracu – sim, agora você entende porque aquela cerveja preta tem o rosto de um boi na estampa. Aliás, um dos lemas da marca brasileira de bebida stout (criada na Irlanda para dar força aos trabalhadores de portos) é “forte e gostosa”, abraçando os conceitos de energia e prazer.

Mas o que se viu no Mineirão não foi nem uma coisa nem outra. Lembrei de uma propaganda de pilhas em que um monte de coelhinhos de brinquedo vai parando de funcionar, um atrás do outro. Engraçado que foi justamente a partir de um coelho que saíram as esperadas faíscas.

Estava perto do carro do Corpo de Bombeiros que levaria o América à comemoração do titulo do Campeonato Mineiro pelas ruas de Belo Horizonte, após a decisão do ano passado. Os jogadores brincavam com o mantra “Eu acredito!”, lembrança que me fez lamentar a contratação de Danilo Barcelos.

O lateral esquerdo/meia só precisou de uma partida para mudar a minha opinião. Antes de entrar em campo para marcar dois gols e dar assistência ao terceiro, contra a Tombense, Danilo estava marcado para ficar sempre na reserva, já que a lateral está bem ocupada por Fábio Santos e o meio está recheado de armadores.

Roger Machado deve ter percebido nos treinamentos que dali sairia a centelha que o Atlético tanto precisa. Danilo parece ser daqueles jogadores que o primeiro quadro deve ficar de sobreaviso, pois fará de tudo para agarrar a sua chance. Tem a paixão de uma bailarina, devo dizer.

Estou me referindo à personagem da animação “A Bailarina”, que fui ver no sábado com a minha filha, antes de me postar ao lado do rádio para ouvir Atlético x Tombense. É uma história clássica: órfã nasce predestinada a ser uma grande bailarina, mas seu sonho é ameaçado por uma garotinha rica e mimada.

Uma ex-bailarina que trabalha como faxineira põe o dedo no peito na garota e avisa: “você tem algo que ela não tem: paixão”. Danilo dançou, driblou, movimentou-se, fez o diabo. Até na hora de comemorar, saiu correndo desembestado, ainda com energia de sobra para queimar.

No lugar de só deixar resíduos que atrapalham o bom funcionamento do motor, buscar combustível da “reserva” levou o Galo a um desempenho muito melhor, gerando uma boa dor de cabeça a Roger. Como tirar Danilo da equipe depois de uma atuação tão vibrante, tão apaixonada?

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por