Essa coisa chamada amor

22/05/2017 às 19:56.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:40

BRUNO CANTINI/ATLÉTICO/DIVULGAÇÃO / N/A

  Deixei o Breno na arquibancada atrás do gol do Independência, enquanto fui para a tribuna de imprensa. Larissa também estava sem companhia, a algumas cadeiras de distância. Como uma donzela indefesa, ela pediu para o Príncipe Encantado, digo, meu filho, sentar-se ao seu lado, para afastá-la de qualquer perigo. Pouco depois já dividiam o fone de ouvido o e, ao final do jogo, apesar do resultado amargo no Horto, também compartilharam números de telefone. Não sei qual será o desfecho dessa história, se vou ganhar uma nora ou se tudo não passou de um simples flerte, mas certamente não foi uma tarde “perdida” para o Breno, após ver o Galo cair em casa para o Fluminense. A harmonia proporcionada pelo cupido, em que céus e terra comungaram para o florescer do mais nobre dos sentimentos, contrastou com a falta de sorte da equipe alvinegra. Para não dizer, falta de paixão. Cazares não exibiu o mesmo carinho com a bola como nos jogos anteriores. Fred se mostrou afobado, errando um gol na cara, algo que não costuma fazer. Victor, apesar de ter nos poupado de uma derrota pior, não teve as bênçãos de Nossa Senhora na cobrança de pênalti, vencido pelo Ceifador, nome da Morte. E Marcos Rocha se comportava como se fosse sua primeira vez, sem saber onde pôr as mãos (os pés e a cabeça, no caso). Minha intuição já alertava que a ascensão firme e segura, a partir da inclusão do pau-para-toda-obra Adilson, ganharia uma brusca parada, como um gozo interrompido. E não era pelo fato de a tela de descanso do meu celular apresentar, como figura do dia, uma zebra. No jargão futebolístico, a zebra está vinculada a uma tragédia inesperada, um resultado que ninguém esperava. Posso afirmar que esperava, sim, por esse momento. Se é para ficar no reino animal, o Atlético é igual ao urso, ao pinguim e ao ganso, em que, na ausência de temperaturas fortes e quentes, preferem hibernar. Sem disputas acirradas por títulos e classificação, na primeira oportunidade as funções vitais seriam reduzidas ao necessário à sobrevivência. Contra o Paraná, adversário na estreia da Copa do Brasil, amanhã, o alvinegro encontrará um animal que vive um ciclo bem diferente. A gralha azul, símbolo dos paranaenses, aproveita o outono com intensidade, recolhendo pinhões de araucária para estocagem, antes da chegada do inverno. Diz a lenda que as espingardas miradas para as gralhas negariam fogo, devido à “missão divina” delas, responsável por semear a araucária. Negar fogo pode ter outra conotação, especialmente se levada para o campo amoroso, já que o que menos queremos ver é uma nova “broxada” do Galo. E, em tempos frios, não ficar cantando antes da hora, como aquela fábula da cigarra e da formiga. Se é para agir como a cigarra, que seja destruindo as raízes da araucária que servirá de alimento para os gralhas. E que seja o da espécie Magiciada, que nos remete à palavra “mágica”. De fato, ele tem uma característica curiosa: todos nascem da terra de forma sincronizada, criando um canto ensurdecedor por duas semanas. Não muito diferente do Atlético que vimos entre 26 de abril, quando venceu o Libertad, e 16 de maio, na vitória sobre o Godoy Cruz, período que teve ainda a conquista do Campeonato Mineiro. Essa mágica não pode ser perdida, com a equipe devendo voltar a jogar de maneira equilibrada em todos os seus setores. E se ouvir o canto dos pássaros, não será o da gralha azul, mas sim dessa coisa chamada amor.

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