Libertadores, eu acredito

13/08/2017 às 17:51.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:04
 (Bruno Cantini/Atlético/divulgação)

(Bruno Cantini/Atlético/divulgação)

Bruno Cantini/Atlético/divulgação

  

Já começo a sentir os sintomas de abstinência. E olha que ainda não se passou uma semana que o Atlético foi eliminado da Libertadores. O fato é que nos acostumamos de tal maneira com esta competição, após cinco edições seguidas, que ela deixou de ser como o cometa Halley, que só vemos passar de tantos a tantos anos.

Como ela, aprendemos a geografia do futebol sul-americano, a língua espanhola em seus diversos sotaques, as alturas que nos fizeram prender a respiração em jogos difíceis. Conhecemos os hermanos, aqueles maravilhados com a nossa festa no estádio e os brigões, que quase puseram abaixo o vestiário do Independência.

Fizemos coisas que nunca tínhamos feito. Não deixamos o Olimpia dormir, cansando-os com os nossos foguetes que vararam a noite. Distribuímos copinhos de água, desligamos a tomada dos refletores e colocamos máscaras assustadoras na partida que mais saímos de cabelo em pé, com um pênalti marcado a minutos do apito final.

Louvamos a perna esquerda de Victor e o canonizamos, vimos Léo Silva cair e voltar a ficar em pé para cabecear e fazer o gol salvador. Vimos jogadores deslumbrarem e ganharem as manchetes do mundo, como Ronaldinho Gaúcho, o primeiro grande embaixador atleticano, um Pelé em terras estrangeiras.

Fizemos do Horto o nosso porto seguro, recebendo a delegação alvinegra num grande corredor humano com sinalizadores, indicando o caminho para mais uma vitória com o apoio irrestrito da torcida. Olhamos, deslumbrados, para o alto e acompanhamos fogos de artifício cruzarem os céus escuros do Independência, afastando qualquer tempestade.

Pela Libertadores, jogaram o Bruxo, o Mago, o Santo, as Torres Gêmeas, Blackenbauer e até Jesus. A Argentina nos escolheu e nós a escolhemos, tratando seus filhos como nossos. Realizamos aquilo que já pregava John Lennon, num mundo sem fronteiras, recebendo de braços abertos equatorianos, colombianos e venezuelanos.

Sofremos com as lesões, exigindo dos doutores um milagre qualquer, com as injustiças, com os gols não marcados. Sofremos a ponto de nosso coração quase explodir com viradas históricas, como se o tempo conspirasse a nosso favor, à espera dos gols que nos conduziriam à redenção,

Libertadores virou sinônimo de libertação.  Nunca mais fomos os mesmos. Ainda hoje tento achar o celular lançado ao chão, após Jimenez mandar a bola na trave. Ainda choro ao ver Cuca lançado no gramado, com os médicos e equipe técnica a abraça-lo. Nossa Senhora virou a guia de Cuca, virou a nossa guia.

Ainda vejo nos meus pensamentos a defesa com os pés de Victor, no chute de Miranda, durante as penalidades; petardo de Alecsandro no canto esquerdo, no alto; o gol de Ferreira, que a muralha quase pegou; Guilherme, com paradinha e tudo, no segundo gol; a certeza de Jô ao guardar o seu; a tranquilidade e explosão de alegria de Léo Silva.

Todos as cobranças do Atlético foram certeiras, firmes, indefensáveis, num quadro muito diferente de hoje.  Comandados por Ronaldinho, a convicção da vitória e do título era inabalável. E a torcida, ávida por um título, foi junto, empurrando, gritando “Eu acredito!” como uma espécie de onda sonora que energizava todo o campo.

Foi assim. Eu vi. Estava no estádio, à frente do aparelho de TV, com o ouvido colado no rádio, numa pousada ecológica em que meu pai narrava, por telefone, os momentos finais do jogo contra o Tijuna, no Independência. De alguma forma, tudo isso está impresso em meu corpo, em emoções únicas.

E se for preciso torcer contra os ventos desfavoráveis, eu o farei. Quero ver o Atlético disputando a Copa Libertadores de 2018 e, enquanto houver uma chance matemática para isto acontecer, eu acreditarei. Não por acaso, faltam 18 rodadas para um terrível pesadelo se transformar em sonho outra vez. 

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