Luânidas

28/03/2017 às 16:16.
Atualizado em 15/11/2021 às 13:55
 (MARCOS BEZERRA/AE)

(MARCOS BEZERRA/AE)

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    Mais do que qualquer outro jogador que passou pelo clube, Luan é a maior expressão do refrão presente no hino, sobre lutar com toda a nossa raça para vencer, defendendo o Atlético até morrer. Isso ficou muito claro no domingo, quando o jogador, voltando de um longo e difícil período de recuperação de contusão no joelho, teve uma entrega de 110% no campo, sendo premiado com um gol nos minutos finais. Como ele mesmo reforçou nas entrevistas, Luan sabe muito bem o que é jogar no Galo, como se vestisse um manto sagrado que automaticamente exigisse dele total devoção e sacrifício. Vendo-o emocionado após o gol, com os companheiros da reserva correndo para o gramado para comemorar e o estádio inteiro gritando “Luan! Luan!”, fui transportado para os tempos da idade antiga. Mais precisamente para 481 antes de Cristo, quando Lêonidas comandou um exército de 300 espartanos que lutou bravamente, até o último homem, contra milhares de soldados persas. Baixinho e maluquinho, Luan está longe de ser o Lêonidas bombado do filme “300”, mas o atacante já deu provas suficientes de seu desdobramento em campo, jogando por 11. Contra a URT, ele tocava, movimentava-se, pedia a bola de volta, corria, voltava e reeditava as passagens com Marcos Rocha. O gol feito fora de ângulo, despencando-se na linha de fundo, é o retrato perfeito desse Luânidas. O mais incrível da história de Leônidas é que ele sabia que seria traído e que, cedo ou tarde, iria morrer nas mãos do rei persa Xerxes. Mas não se entregou e preferiu morrer em combate, para não fugir à característica dos espartanos, que nunca se rendiam. Luan sempre foi assim. Lembro do jogo contra o Tijuana, no México, em que ele pediu a Cuca para entrar, no segundo tempo, dizendo que marcaria o gol de empate (o Galo perdia por 2 a 0). E foi o que aconteceu. A jogada do segundo gol, na Libertadores, não foi muito diferente do segundo gol diante da URT, com o atacante acreditando no lance, depois de trombar com os zagueiros do Tijuana e esperar a saída do goleiro. Mais: Luan havia entrado no intervalo, no lugar do contundido Bernard. O que se repetiu no domingo, substituindo Danilo Barcelos, que destoava do restante do elenco alvinegro na partida. Após essa demonstração de empenho, algo que Roger Machado valoriza muito, não me assustará se Luan começar o clássico entre os titulares. Um prêmio para quem, há um ano, passava por uma delicada cirurgia no joelho. E sabe-se lá se, quando implantou células-troncos no joelho de Luan, para melhorar a cicatrização, o doutor Rodrigo Lasmar não tenha embutido algum gene do Leão de Esparta. Leônidas pode ter morrido e perdido a batalha, mas sua luta incansável no palco da guerra fez com que toda a Grécia se unisse para vencer Xerxes, exemplo que Luan também pode exercer no grupo atleticano. Vale aqui repetir uma frase de Leônidas quando o rei persa lhe disse que seriam tantas flechas lançadas contra a Grécia que elas obscureceriam o sol. “Melhor. Combateremos à sombra!”, respondeu o guerreiro.  Combater à sombra é como torcer contra o vento, em plena tempestade, como aquela camisa atleticana pendurada no varal, na crônica de Roberto Drummond. Então, que venham as flechas!

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