O presente desejado

15/02/2018 às 18:50.
Atualizado em 03/11/2021 às 01:23
 (Bruno Cantini/Atlético/divulgação)

(Bruno Cantini/Atlético/divulgação)

Bruno Cantini/Atlético/divulgação / N/A

  Tinha certeza que o “sim” de Cuca viria na terça-feira de Carnaval, dia do meu aniversário e do final do prazo dado pela diretoria atleticana para anunciar o novo treinador. Nas mensagens de Facebook, não eram poucas as felicitações atreladas à possível “boa notícia”. A confirmação seria como um desses presentes que não vêm prontos para serem imediatamente consumidos e descartados. Seria, atrevo a dizer, como saber da vinda de mais um filho, por mais que a Beth desaprove esse tipo de comparação. Não por acaso, ela estava nos dias férteis, mais do que preparada para trazer um novo integrante da família ao mundo. Nos meus delírios, seriam nove meses para o nascimento e a comemoração dupla com o mais do que esperado título do Campeonato Brasileiro. Diferentemente de abrir um presente e encontrar um pacote de três cuecas do tipo “vovô” (desculpa, mãe), o impacto de uma notícia como o retorno do Cuca se reverberaria por dias, semanas até, seguido pela sensação de um círculo vicioso que está sendo rompido. É como começar num emprego novo, em que tudo ao redor se modifica e o tempo parece suspenso. Sensação que Cuca nos apresentou, ao nos dar a certeza de que o Galo sairia de resultados adversos, só precisando de 90 minutos ou de um milagreiro como Victor. Como a festinha que estava sendo preparada pela minha filha Julia, cuja ansiedade já entregava o que iria acontecer logo mais, não seria surpresa nenhuma o comandante da conquista da Libertadores desembarcar no CT de Vespasiano, prometendo arrumar a casa. Casa, por sinal, que precisaria ser novamente “construída”, já que uma das virtudes de Cuca foi preservar o torcedor de qualquer sofrimento. Claro que houve aquele pênalti no jogo contra o Tijuana, mas que só serviu para canonizar Victor.  Somente Cuca para nos devolver o sentido grego de casa, como algo inviolável, expressão de seus donos. Na Grécia Antiga foi que a casa tomou a forma que tem hoje, com uma saída para rua a partir dos cômodos habitados pelos seus senhores. Na configuração atleticana de agora, o quarto ocupa o lugar da sala, sendo constantes os momentos de apagão do time. Nos últimos anos, o Galo foi perdendo progressivamente a intensidade, com os jogadores da casa sendo os primeiros a caírem mortos no Horto. Cuca, como a poderosa bruxa do folclore, seria capaz de ressuscitá-los, pois não basta juntar um punhado de jogadores excepcionais, como Fred e Robinho, se não há um mestre (cuca) para tirar o melhor proveito de ingredientes tão sofisticados.  As horas foram passando e a única notícia que eu tive foi que o Atlético queria o Carille do Corinthians. Como uma criança mimada que, não ganhando o presente desejado, fica de olho no que o outro recebeu por merecimento e esforço. Carille me lembra outra palavra, pivô de uma celeuma no pós-jogo do Acre e, coincidência ou não, seguida pela saída de Oswaldo de Oliveira. Mais do que ficar frustrado por Cuca ter se recusado a voltar, foi pensar no que esse “não” pode representar. Assim, o dia 13 de fevereiro, antes lembrado pelo início da campanha atleticana na Libertadores de 2013, entra para a história como o do “não fico”. Nada mais apropriado para lamentar essa situação do que uma Quarta-feira de cinzas.

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