Pretérito mais que perfeito

13/10/2017 às 10:25.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:12
 (Bruno Cantini/Atlético/divulgação)

(Bruno Cantini/Atlético/divulgação)

Bruno Cantini/Atlético/divulgação / N/A

 Apesar de não termos mais mexericas, coelhos, rosas e outros produtos de origem duvidosa, o fato é que o atleticano voltou a viver do passado. Sem título de expressão à vista e tentando espantar qualquer risco de rebaixamento, fantasma que nos atormentava antes de 2012, passamos à lembrança de uma época em que tudo parecida dar certo, com a bola tendo direção certa e a sorte nos ancorando.

Percebi essa nova vibe – para usar uma expressão da moda – na partida contra o São Paulo. Aquela expectativa de jogo bonito, de passes mágicos promovidos por bruxos, magos e até Jesus, do time da virada e dos milagres no Horto e em outros campos de batalha, não existe mais. Ninguém espera sair deslumbrado, de presenciar um grande espetáculo e ver uma equipe imbatível e com pinta de campeão.

A Massa voltou a fazer a sua parte: torcer sem parar e fazer barulho para, quem sabe, o adversário se distrair, sentir a força das arquibancadas que não existe dentro de campo. Passamos a torcer contra: o árbitro, o bandeirinha, o narrador, o vento e o time do outro lado, na esperança de um errinho qualquer. O gol tem que sair assim, de um empurrão na área para que seja assinalado pênalti.

E rezar com toda vontade para que deixem Fábio Santos bater e fazer o que os atacantes já não fazem com tanta frequência. Quando Fred pegou a bola, confesso que tremi. Felizmente ele sabe que a maré não anda boa para o seu lado e a entregou para o lateral esquerdo. Depois é fechar os olhos e ouvir a reação da torcida. O gol de Fábio foi comemorado como um título de Libertadores.

Se daí para frente o jogo foi ruim tecnicamente, não importa. Melhor jogar feio e segurar o resultado, filosofia adotada pelo técnico Oswaldo Oliveira que ninguém discorda. Mesmo com o esforçado Valdívia errando todos os chutes a gol, havia o consolo que a bola estava longe da área do Victor. O apito do árbitro detona uma explosão de alegria, dentro e fora das quatro linhas. Dá até para tomar três cervejas em comemoração.

A verdade é que o Atlético encontrou o seu gêmeo siamês, um grande time em má fase, que se atrapalha tanto na defesa como no ataque. Em outros tempos, o Galo não teria perdoado essa quantidade de erros. As duas equipes estavam anos-luz do disputado jogo realizado na Copa Libertadores do ano passado. Gêmeos dessa natureza nascem colados e a cirurgia possível foi deixar para eles o Pratto e o Maicosuel.

Se lembrarmos bem, o Atlético estava, no início do ano, de barriga cheia. Dispensou Pratto, Hyuri, Clayton... Como se Fred fosse um ungido, um filho único afortunado, bastando a bola chegar aos pés dele. Hoje sonhamos com a volta de Prato, temos que tolerar o Clayton e concordar que o Hyuri dava um sanguinho. O grupo atual não é ruim, mas quis o destino que estivessem passando pela pior fase da vida deles.

Minha professora de coaching alerta que estamos vivendo no passado positivo, nostálgicos e esperando que ele volte como num passe de mágica. Confesso que a única coisa que quero de volta é o Cuca. Só ele foi capaz de transformar um time fracassado, prestes a cair à segunda divisão, praticamente sem mudar uma peça sequer. Se Cuca vier, ninguém precisa ir embora, de Robinho e Fred a Felipe Santana e Roger Bernardo.

Quem sabe voltarão a jogar tudo aquilo que o levaram a ser contratados, numa nova versão do grupo de 2012. Com uma durabilidade maior, claro. O Atlético está igual ao meu aparelho de TV Samsung, com uma obsolescência programada. Ele agora liga e desliga o tempo todo. Como o Galo de 2017. Nesse caso, é melhor virar museu, alimentando de passado. E Cuca é o pretérito mais que perfeito.

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