Sem defesa

12/11/2016 às 12:27.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:38

Estimulada pelas agressivas propagandas natalinas, como se o dia 24 de dezembro já fosse essa semana, Julia entra na sala, toda serelepe, querendo saber o que eu gostaria de ganhar. Ainda aturdido pelo desempenho pífio do Atlético contra o Coritiba, desligo a TV e peço à minha filha dois zagueiros. No mínimo.

Zagueiros experientes, que estão jogando em times de expressão e como titulares. Inacreditável como os defensores alvinegros caíram de produção nesse semestre. Erazo, o elegante, tem sido a principal via para os adversários chegarem ao gol. Suas investidas pelo alto lhe renderiam zero em Física, errando feio a equação entre distância e tempo.

Leonardo Silva, nosso beque-artilheiro, está no estaleiro, ainda resistindo bravamente aos limites impostos pelo corpo (tem 37 anos). Gabriel, de 21, é jovem e precisa de maior quilometragem para se igualar a “Blackenbauer”, como a torcida carinhosamente chamava Jemerson, transferido nesse ano para o Mônaco.

Edcarlos foi mal quando entrou em campo, no primeiro semestre e pouco jogou no segundo, ainda longe de mostrar a determinação e a habilidade de quando ajudou o Galo a ganhar a Copa do Brasil. Ronaldo veio, por indicação de Marcelo Oliveira, mas virou uma decepção, protagonizando lances bizarros em apenas cinco jogos.

Se a solução imediata não vier da base ou mesmo dos outros clubes do país, o caminho é buscar no estrangeiro. A sanha por gols, porém, fez com que o futebol brasileiro contasse, em 2016, com 18 atacantes e 21 meias de fora. Zagueiros, apenas oito, mesmo número de volantes. Talvez não seria a hora de o Galo fazer novo lance por Mina?

Não estou falando do Yerry, colombiano, do elenco do Palmeiras. Mas sim do Arturo, equatoriano, que só não veio devido à nossa janela de transferência, encerrada antes de ele disputar a final da Libertadores pelo Independiente Del Valle. Foi para o River Plate, da Argentina, mas a gente bem sabe que a situação econômica dos portenhos é pior que a nossa.

Não é por acaso, creio, que os clubes em ascensão contam com defensores argentinos. Santos tem o Fabián Noguera. O Grêmio conta com Kannemann, que faz boa dupla com Geromel. E há o Donatti, do Flamengo, que está na reserva. Em matéria de zagueiros argentinos, o Atlético, é bom que se diga, não teve o que reclamar.

Capria fez dez partidas e marcou três gols, um deles contra o Boca Juniors, pela Copa Mercosul, em 2000. Galván (1998-2000) era sinônimo de raça, tatuando um galo em seu braço. Em 2014, Otamendi, titular da Argentina, não teve muito tempo de mostrar seu valor, ficando apenas quatro meses, num momento de baixa do time, com Autuori à frente.

Se a ideia é trazer um ou dois reforços argentinos, por que não mudar a numeração das camisas dos zagueiros, igual ao futebol dos hermanos? Lá o 3 e o 4 são destinados aos laterais, enquanto o 2 e o 6 aos beques. Uma forma, quem sabe, de confundir os atacantes. Na Europa, alguns até usam o 5, mas na fase que o Rafael Carioca está, talvez melhor esquecer.

O ideal seria o 8, do general Donizete, um dos poucos que vem se salvando na defesa do Atlético. E se é para bagunçar a cabeça dos adversários, sugiro pôr o Junior Urso lá na frente, pois não é mistério para ninguém que o volante é um atacante enrustido, marcando os gols e deixando de marcar os rivais.

Para quem não sabe, zaga também serve para designar um tipo de palmeira. O que nos faz pensar sobre os motivos que fizeram do Palmeiras o segundo time menos vazado do Brasileiro, praticamente com uma mão na taça. Daquelas árvores, por sinal, são feitas as zagaias, lanças curtas usadas por caçadores africanos.

Para se proteger dessa zaga perigosa, uma arma igualmente exótica e antiga é o atlatl, que carrega um nome que remete ao clube mineiro. Ele era usado para aumentar a velocidade inicial de um projétil, como a própria zagaia, e tinha a forma de bastão alongado, com um gancho na extremidade.

Os índios amazônicos do Alto Xingu transformaram o atlatl num jogo, o jawari, disputado num campo de tamanho similar ao do futebol. As pontas afiadas foram substituídas por pedras arredondadas, com o objetivo de atingir as pernas dos adversários. Dois aspectos – velocidade e combatividade – que sentimos muita falta na defesa atleticana.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por