Sincronicidade (de como Tom Zé e Ivete entram na crônica)

15/11/2018 às 18:05.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:51
 (Bruno Cantini/Atlético/Divulgação)

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Bruno Cantini/Atlético/Divulgação / N/A

  Sonhei que estava completamente nu no centro de Curitiba, escondendo com as mãos as partes íntimas em meio a um frio de lascar. Ninguém olhava para mim. O que, em situação normal, não seria motivo para preocupação. Mas como era um sonho, a narrativa acabou ganhando outros contornos.  Estar pelado em público faz parte dos sonhos mais recorrentes de muita gente, assim como acordar após estar caindo num precipício ou com a cama toda molhada, depois de um aguaceiro invadir o inconsciente durante o período de sono. Dizem que ficar nu nos sonhos tem a ver com sentimentos de vergonha. Como o cenário era Curitiba, exatamente no dia do jogo do Atlético contra o Paraná, logo matei a charada, sentindo-me como um Freud ao decifrar a intimidade dos seus pacientes pelo registro do que vivenciaram no cérebro, durante a noite. Descobri, no entanto, que há várias maneiras de ficar sem roupa nos sonhos. Segundo a minha prima Mary, conhecedora da interpretação dos sonhos, estar com os trens de fora e sozinho significa que existem desejos reprimidos. No meu caso, porém, ela observou que, apesar de eu esconder a genitália, não mostrava pânico com a situação, sinal de que estava pronto para lidar com as dificuldades. Mais ou mesmo como o Galo agora, após passar uma grande turbulência que culminou em demissões e a saída da disputa pelo título do Brasileiro, restando apenas brigar pela última vaga na Libertadores. Com seu estilo brincalhão e zen-budista, Levir Culpi parece conseguir pôr a equipe alvinegra nos trilhos. Confesso que não estava muito esperançoso, mas domingo passado, por mais que eu evitasse o Independência, tudo me punha em direção ao Horto. Minha mãe me fez levá-la à casa de uma amiga que eu detestava, bem na hora do jogo. Como tinha que esperá-la, resolvi, meio contrariado, acompanhar o Galo contra o líder. Mary chama esse tipo de coisa de sincronicidade, palavra pomposa para afirmar que casualidade não existe, havendo relação entre acontecimentos estranhos, como sonhar com um escaravelho e um inseto parecido bater à janela. Isso aconteceu com o psicólogo Carl Jung, o criador da ideia de “coincidências significativas”. No caso do Indepa, valeu a pena. Apesar do medo de ver mais uma outra derrota, o Atlético se mostrou aguerrido e marcou um gol primoroso, numa jogada que fez a torcida se encantar novamente. O adversário empatou numa cobrança de pênalti, o que não tirou o brilho do desempenho de alguns jogadores. Fico pensando o que me fará ver o jogo do Galo contra o Bahia, amanhã. Embora o meu ânimo tenha voltado com relativa força, preciso continuar fingindo que não quero assistir para essa tal sincronicidade continuar a nos beneficiar. Quem sabe uma chuva para me prender num bar que esteja passando a partida. Dizem que a sincronicidade pode ser manifestar na música que ouvimos ou num encontro que não esperávamos. Se não for pedir demais, gostaria de ouvir o baiano Tom Zé cantando “Vai”, sobre uma felicidade que chegará amanhã de manhã, e de trombar com a Ivete que tem Galo no nome. Nem precisaria estar pelado.

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