Sorte e sofrimento

15/09/2018 às 07:48.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:28
 (Bruno Cantini/Atlético/divulgação)

(Bruno Cantini/Atlético/divulgação)

Bruno Cantini/Atlético/divulgação / N/A

  

Quando Léo Silva partiu em disparada para a área adversária, assim que o juiz deu início à partida, para receber um longo lançamento e ajeitar de cabeça um possível ataque atleticano, a sensação foi de ser transportado para o passado, experimentando uma situação já vivida. Aquilo que chamam de déjà vu.

Há muito tempo não via essa jogada que marcou boa parte da campanha do Atlético nas conquistas de 2013 e 2014 e, durante a partida contra o xará paranaense, senti que alguma coisa havia mudado neste time atual. Um click na engrenagem que, desde a partida contra o São Paulo, passou a funcionar como em anos anteriores.

Para quem viveu a euforia do Milagre Atleticano, da perna santa de Victor às bruxarias feitas por Ronaldinho Gaúcho e companhia, ainda tem muito entranhado um anormal sentimento masoquista, em que o gosto vitorioso só vem a partir de uma boa dose de sofrimento, como se precisássemos da expiação para chegar à vida eterna.

Um título estava atrelado, além do talento dos jogadores, ao binômio sorte e sofrimento. Quantas foram as reversões de placares nos mata-matas? Quantos minutos precisamos esperar para, nos derradeiros instantes, acontecer o gol salvador, como a cabeçada de Léo Silva na final da Libertadores diante do Olimpia?

Assim, contra os paranaenses, sofremos, sofremos. Em determinado momento, nada parecia dar certo, numa sucessão de passes errados. O Furacão parecia querer fazer um estrago nas nossas defesas, destelhando o pouco que sobrou neste ano. Por duas vezes, a bola quase chegou lá, acertando o travessão e a trave.

Aquela do travessão, voltou do ladinho de Victor e foi para longe da meta. Quer sorte melhor que esta? Não são todos os goleiros que a têm e podemos citar Carlos, da Seleção Brasileira, naquela fatídica cobrança de penalidades, na Copa de 86, diante da França, e o próprio Victor, contra o Corinthians, em que bola bateu na trave e nas costas antes de entrar.

A sorte realmente parece ter voltado e, coincidência ou não, depois de Ricardo Oliveira vir a público para pedir o apoio da torcida tal como nos anos de glória. A Massa não só atendeu, como parece ter resgatado algo mais, convocando os deuses protetores, porque futebol é feito também desse elemento místico e surpreendente.

O clássico será o teste dos nove. Não sei se voltaremos a ver aquele chute matreiro do Vanderlei, em 2007, aproveitando recuo malfeito da zaga cruzeirense, marcando o gol enquanto Fábio caminhava tranquilamente de costas. Já estará de bom tamanho um gol como o de Ronaldinho Gaúcho, em 2012, que driblou todo mundo do meio-campo até à pequena área.

Se a esperada sorte, junto ao sofrimento (que não seja muito, pois é clássico e com o manobol não se brinca), voltou mesmo, para ficar, como em épocas áureas, teremos 13 partidas decisivas pela frente em que poderemos aspirar, sim, um título nacional depois de 47 anos. E 13, vocês já sabem... é Galo!

  

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