Um brinde!

07/03/2017 às 14:33.
Atualizado em 15/11/2021 às 13:39

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 Contra um time “bodegueiro”, a estreia do Atlético na Copa Libertadores não poderia ser melhor. A palavra bodega não é muito usual entre os brasileiros, a não ser por um significado pejorativo, de lugar de péssima qualidade, parente da birosca. Mas em terras de hermanos, bodega é uma venda especializada em vinhos, e dos bons, principalmente aqueles produzidos em Mendoza, província que abrigará o confronto com o Godoy Cruz.

Mendoza é responsável por 70% das vinículas argentinas (são mais de 1.200), com 150 mil metros quadrados dedicados exclusivamente ao plantio de uva e ao fabrico da bebida. Atmosfera ideal para Fred brilhar mais uma vez com a camisa atleticana. Artilheiro do Campeonato Mineiro, o atacante está no auge de sua forma, como um bom vinho que, quanto mais envelhecido, melhor fica, exibindo outras nuances prazerosas ao paladar.

Se permanecer com esse incrível rendimento ao longo do ano, não desperdiçando chances quando a bola surge à sua frente, Fred poderá se tornar um dos maiores ídolos da história do Atlético em pouco mais de um ano no clube. No mesmo nível de Dadá e Reinaldo, atacantes que aterrorizaram zagueiros e deixaram a marca de goleador. O caso de Fred é mais surpreendente, de uma safra raríssima, cujos aromas mais reveladores ficam com o passar do tempo.

Como os Malbec e os Carbernet Sauvignon que dominam os vinhedos de Mendoza, Fred está mais encorpado, um jogador mais consciente e menos afoito, atento à movimentação dos companheiros e sabendo se poscionar no momento de definir. Em muitos dos gols, a bola na rede é acompanhada de lances de grande plasticidade, fruto do bom entrosamento com Robinho, Maicosuel e Rafael Moura, jogadores já rodados e que só melhoram a composição.

Na linguagem dos enólogos, eles seriam os taninos, ácidos e álcool, que, com a idade, se tornam mais sutis, proporcionando maior maciez. Sem eles, Fred não estaria tão maduro como agora, a ponto de fazer logo a torcida se esquecer de Lucas Pratto, hoje visto como um excesso, um ingrediente a mais que poderia pôr tudo a perder. Tanto é assim que, na única partida que não participou (não computando o time alternativo que enfrentou a Chape), o Atlético perdeu.

Minas é conhecida pela cachaça, mas Fred tem tudo para encher os olhos dos argentinos. Na terra também das oliveiras, o Galo é o time mais azeitado, contra um rival que não fez um jogo oficial sequer nesse ano, devido à crise do futebol portenho, que, endividado, vem adiando o início do certame. Fora que, no banco de reservas, estará um treinador que viu de perto o fenômeno “Eu Acredito!” em 2013. Bernardi estava no elenco do Newell’s Old Boys.

Seja pela situação financeira ou pelo exagero etílico, “Tomba”, palavra que faz parte do nome do time mendocino (Club Deportivo Godoy Cruz Antonio Tomba) e grito de guerra dos torcedores, poderá se tornar uma excelente expressão para definir um placar confortável. O otimismo parece demasiado, de alguém embriagado, mas para um grupo que tem um pé tão certeiro, só é preciso botar a bola perto dele, na grande área, para fazer “tim-tim” (no chinês, origem da onomatopeia, muita felicidade).

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