Um grito que o Galo precisará se acostumar: “tomba! Tomba!”

27/12/2016 às 12:57.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:14

Godoy Cruz parece tudo menos o nome de um time de futebol, por isso já me simpatizei com os primeiros adversários do Atlético na Copa Libertadores de 2017. Como praguejar ou se enfurecer com um clube que, ao fim das duas palavras, você já criou associações bestas (penso sempre em hospital, talvez por lembrar dodói, Oswaldo Cruz e Cruz Vermelha) e começa a rir, eliminando qualquer energia negativa dos poros?

Esse tipo de oponente é um perigo, pois não é possível se concentrar como um Rocky Balboa batendo raivosamente no saco de areia com flashes do rosto do lutador russo Ivan Drago (e uma musiquinha de superação ao fundo). Imagine então se tivéssemos caído numa chave que reunisse ainda Wanderers (soa como uma banda da Jovem Guarda), Capiatá (personagem saído do folclore, como boi tatá) e Carabobo, já autoexplicativo?

Carabobo, avisa-me o Google, é um estado venezuelano de dois milhões de habitantes, localizado no norte do país. Fico sabendo que de bobos eles não têm nada: lá se deu a batalha de Carabobo, em 24 de junho de 1821, fundamental para conseguir a independência da Espanha. “La Selecíonita”, o time, fundado em 1997, chega à Libertadores após conquistar o Torneio Clausura, o primeiro troféu de sua trajetória.

Nomes estranhos são um forte indicativo de campanhas inexpressivas. O Zulia tem como título principal a Copa Venezuela 2016. Com a alcunha de Petroleros, é possível entender as razões de a equipe ter ido tão longe, recebendo ainda outras fontes de energia, como mostra o escudo – um sol radiante e um raio cortando-o, o relâmpago de Catatumbo, fenômeno meteorológico característico do lago de Maracaibo que apresenta uma descarga contínua de raios.

Os bolivianos do Jorge Wiltersmann são uma das poucas exceções, com 13 títulos nacionais e 17 participações em Libertadores (chegou à semifinal em 1981). O site oficial do clube destaca, entre os ídolos, o atacante brasileiro Jairzinho, tricampeão em 1970 com a canarinho, chamado de “piloto” porque a história do Wiltersmann está relacionada a uma companhia de aviação, a Lloyd Aéreo Boliviano. JW, por sinal, foi o primeiro piloto comercial do país.

Também da Bolívia é o Sport Boys Warners. No início até que pensei que era outro Sport Boys, “los rosados” peruanos, que carregam o orgulho de terem humilhado ninguém menos do que Adolf Hitler, em sua casa, durante os Jogos Olímpicos de 1936. O time serviu de base para o selecionado do Peru, que venceu por 4 a 2 a Áustria, terra natal do führer, presente no estádio de Berlim. Mas deram um jeitinho de anular a partida e, em protesto, toda a delegação se retirou dos Jogos.

Estreante em Libertadores, o Warners, que está no mesmo grupo 6 do Atlético, também tem em sua história um comandante político: Evo Morales, atual presidente da Bolívia, que em 2014 foi anunciado com reforço do “toro”, como é conhecida a equipe de Santa Cruz de la Sierra – talvez, quem sabe, por causa do nome do estádio, o Samuel Vaca. Se a entrada em campo de Evo não passou de uma promessa, a equipe ganhou um estilo mais “bovino” na temporada, com a vaca quase indo para o brejo.

Já o Godoy Cruz, apesar de ser quase centenário (foi criado em 1921), não tem muito o que puxar de seu passado além do caneco da segunda divisão, em 2005. Também, com um nome desses... Não falo apenas do Godoy Cruz. O nome completo é Club Deportivo Godoy Cruz Antonio Tomba. No estádio Malvinas, uma de suas casas, a organizada não para de gritar “Tomba! Tomba!”. E se palavra tem poder, como diz minha mãe, não é difícil imaginar uma vitória atleticana em sua estreia no torneio.

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