50 anos depois

06/12/2021 às 08:20.
Atualizado em 08/12/2021 às 01:13

Omar Serva Maciel

Nenhum acontecimento que se repita com frequência se equipara aos que são aguardados por muito tempo. O Halley não teria sido o Halley se cortasse os céus  todos os anos. A fotografia do beijo na Times Square, Nova York, ao final da Segunda Guerra, não passaria de uma imagem romântica se o amor não triunfasse pelos árduos caminhos da paz. Mandela não se tornaria “Madiba” se tivesse sido libertado após 27 dias ao invés de 27 anos.

Há esperas que são profanas. É o caso da que cerca a abertura e o primeiro trago do “Old Ingledew Whiskey”, o mais antigo do mundo, engarrafado há 250 anos. Outras são sagradas. Religiões são um “aguardar” e um “guardar algo” na alma e no imo. O maravilhamento do infinitivo “viver” se traduz na expectativa por eventos desencadeadores de sensações únicas e inesquecíveis. Falo do meu sebastianismo, que transita entre aquelas duas dimensões. A minha espera, comungada por milhões, perdurou 50 anos desde que numa tarde noite no Rio de Janeiro um cavaleiro, que não era apenas andante, por que pairava no ar, trajando um manto alvinegro, rompera de cabeça erguida, com seu reluzente peitoral de aço, a cidadela adversária, brindando seus súditos com o primeiro de todos os graals.

Essa narrativa, com requintes míticos, me foi contada quando eu e meu saudoso pai, testemunha ocular da façanha de 1971, nos dirigíamos para mais uma justa no Gigante da Pampulha. Um novo “9” havia surgido, carregando toda a simbologia difusa e complexa a que esse número remete, envolta em brumas de paixão e esoterismo. O “novo cavaleiro” era conhecido como “Rei” por antonomásia diante de tantos feitos e portentos. A reconquista do trono e estandarte perdidos parecia ao curto alcance das mãos – e dos pés.

“Só que não”, como dizem meus filhos, herdeiros da mesma linhagem. As dolorosas derrotas em 1977 e 1980 e o desterro em 2005 poderiam ter representado o fim de uma era e de um povo. JUNG, entretanto, tem razão. Raízes profundas no inferno são precisas para que se toque o paraíso. As lágrimas irrigaram o solo, germinando uma “massa”, que floresceu, cresceu e se agigantou na adversidade. “Lutar, lutar, lutar” transcendeu então o hino, convertendo-se em máxima de vida.

Disso fez prova o coroamento da campanha numa vitória épica em um campo protegido pelos orixás e todos os santos. O “Campeão dos Campeões” está de volta 50 anos depois. Não se tratava, sabíamos, de uma questão de quantidade, mas de excelência e nobreza. A data de hoje, 02/12/21, vinha prenunciada a cada aurora pelo canto do Galo, símbolo maior de nossa heráldica, o mesmo canto que anuncia uma dinastia, muito embora, confesso, não querendo que acabe este dia! Obrigado, Clube Atlético Mineiro! Obrigado, Galoooo!!!!

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