A autoestima durante o tratamento do câncer

02/09/2021 às 16:00.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:48

Jaqueline Chagas*

A partir do diagnóstico, a jornada do tratamento para o câncer é repleta de desafios. Além da saúde, problemas financeiros tendem a surgir, já que a doença exige exames, consultas, especialistas e, em muitos casos, afastamento do trabalho. Vale lembrar que apenas no ano de 2018, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), foram registrados 59.700 novos casos de câncer de mama no Brasil. Não podemos negligenciar o que sentimos: todo cuidado é pouco!

Fui diagnosticada com câncer em 2016. Lutei não só contra a doença, mas também contra a burocracia, mesmo com laudos, tratamentos e cirurgias marcadas. A criação do grupo “Unidas para Sempre”, que tem como objetivo dar suporte e apoio ao paciente com câncer e outras patologias, começou a partir de experiências como essa.

A vaidade é parte imprescindível, principalmente na vida das mulheres. O câncer de mama te força a buscar meios alternativos para recuperar sua autoestima, por conta dos impactos causados pelo tratamento. A prótese mamária, por exemplo, não nos deixa sentir mutiladas, como se estivesse faltando um membro.

É muito além de simplesmente “devolver” a mama; é devolver a sua identidade enquanto mulher. Assim como a micropigmentação, que possui um papel importante, já que, sem os pelos no rosto, é como se a gente olhasse para o espelho e ficasse nos procurando. A tatuagem de auréola é outro procedimento que ajuda na recuperação da autoestima da mulher mastectomizada. O desenho realista do mamilo traz de volta o que a pessoa perdeu.

O cabelo é tudo e, sem dúvida, é uma das coisas que mais arrasa com a mulher. Voltar a ver cabelo, mesmo por meio de uma peruca, é como devolver a identidade, o bem-estar e é uma sensação de cura também. Quando fica careca, perde-se toda a sua feminilidade, sua vaidade. É como se a ficha realmente tivesse caído. Isso remete muito à ideia de “estou doente, estou com câncer”. A sensação de colocar um mega hair ou uma peruca é incrível e nos devolve a alegria e a identidade perdidas durante o processo; nos faz sentir mulher novamente.

Além disso, o acompanhamento psicológico para essas mulheres com câncer de mama é fundamental. A psicologia é o carro-chefe para a cura. A mente tem o poder sobre todo o corpo. Eu digo que a gente não entra em guerra sozinho. Pensar assim foi o meu alicerce. Com certeza, a psico-oncologia se torna tão importante quanto os procedimentos médicos de fato, atuando na autoestima e no empoderamento!

(*) Contabilista, paciente de câncer e fundadora do Instituto Unidas para Sempre

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