A capital só do apito do trem

18/11/2016 às 19:29.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:43

Wagner Dias Ferreira*

Desde que passei a chegar para o trabalho no escritório que está localizado no tradicional Edifício Arcângelo Maletta, às 7h, para aproveitar o momento de sossego, sem celular, whatsapp, telefone fixo ou clientes presenciais para a elaboração de peças processuais, sou saudado todos os dias com o apito do trem.

Apesar de Belo Horizonte ser uma metrópole contemporânea com toda agitação comum às grandes cidades, ainda se encontram pessoas que a consideram uma “roça grande”. É a única capital do país que tem a partida regular de um trem de passageiros interestadual às sete da manhã rumo a Vitória(ES). Possui na praça mais central da cidade uma Cafeteria Tradicional, o Café Nice, onde ao longo de todo o dia se encontram pessoas conversando temáticas as mais diversas entre um café e outro. 

Não bastasse tudo isso, o “mineirez” reinventou a palavra “trem”. Como quando se pergunta: “Você faz esse trem pra mim?” ou “Tem certeza que vai levar esse trem pra casa?”. Assim, o “trem” fica de forma absoluta incorporado à linguagem do mineiro e da cultura do Estado, não só como meio de transporte, mas como um ente identificador deste povo.

A incorporação desse fator cultural fez com que Rio Acima na região metropolitana criasse um trem para passeios. Passa Quatro no interior de Minas também. E ainda o trem que liga Ouro Preto e Mariana.

Por tudo isso, não há como compreender o desprezo e a total incompetência dos governantes para implantar o metrô como meio de transporte integrador da Região Metropolitana da capital. Constatar que há pessoas em Belo Horizonte que nunca se utilizaram do metrô... É porque o existente não atende bem a cidade.

Por isso, ao ouvir o apito do trem às sete da manhã todos os dias quando chego para trabalhar, regozijo-me na cultura onde fui criado, mas me entristeço com os governantes que são incapazes de mostrar respeito pela cultura deste povo deixando de valorizar os elementos que o mineiro tornou relevantes e imperativos. 
É preciso compreender o mineiro e comprometer-se com sua cultura para que o trem aqui não seja só um apito.

(*) Advogado e Membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MG

 

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