A cultura da intriga

03/11/2020 às 09:04.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:56

Por Aristóteles Drummond (*)

Quando o Brasil parecia que ia deixar de ser emergente, se livrar da corrupção, da impunidade e do “estado-babá”, que gasta o que não pode e passa a ter carga fiscal insuportável, ocorreram fenômenos inesperados. E a pandemia é o de menos, já que, por ser mundial, estamos convivendo com os mesmos problemas e vamos buscar as mesmas soluções do que as demais nações.

O inesperado foi se constatar o sucesso dos anos de envenenamento da alma dos brasileiros, visando sua divisão, quando melhorar a vida do cidadão e a economia do país passam necessariamente pela união de todos. Pelo sacrifício de todos. Pela vontade de todos. Mas inoculou-se a luta de classes, de raças, de religiões e de maneira de pensar. A democracia do convívio civilizado na sociedade vive momentos de inegável abalo.

A competência das esquerdas em carimbar com conotação negativa grupos e iniciativas é admirável. Os jornais falam em “bancada evangélica” como um fenômeno negativo, quando este grupo religioso e político tem como ponto de convergência, pois são diferentes igrejas evangélicas, a defesa da família, da moral e do empreendedorismo. Tem sua face negativa, o que todos têm. A outra é a “bancada da bala”, que não reúne bandidos, mas, pelo contrário, defende o direito à posse e ao uso de arma de fogo para defesa do patrimônio e da vida, em país que infelizmente a violência é tão presente. Demonizam o “centrão”, grupo de parlamentares sensatos, afastados dos radicais, que defendem a governabilidade e fazem por merecer, de forma legítima, uma participação nos governos, que devem examinar com severidade estas e todas as outras indicações para cargos públicos. O grupo é positivo, o que não impede de ter elementos tóxicos. Mas qual legenda não os tem? O PSDB de Serra? Ou o PT de Lula? Afinal, o Brasil tem uma dívida com este grupo, nascido na Constituinte e que evitou o pior. Cabe lembrar os heróis desta batalha, como os deputados Roberto Cardoso Alves, Milton Reis, Antônio Carlos Konder Reis, Ricardo Fiuza, Amaral Netto e José Lourenço, entre outros. Sem eles, o país teria ficado mais ingovernável do que ficou.

Somos muitos os que esperavam uma atuação melhor do presidente Bolsonaro, eleito de maneira espetacular pelo bom senso popular. Mas ninguém é perfeito e ele mesmo é um homem que chegou aonde chegou com as limitações de quem veio do chamado “baixo clero”, outra denominação criada para definir deputados que não frequentam o noticiário, mas são dedicados ao mandato. No entanto, ele foi e continua sendo o melhor para o Brasil, tendo formado uma equipe primorosa, com grandes nomes em postos relevantes. Esta futricaria feia, baixa, de barrar reformas e travar decisões não prejudica o governo, mas sim os brasileiros que precisam vencer a crise unidos.

O Brasil possivelmente mandará um recado, nesta eleição municipal, de condenação a esta turma de alma pequena. Desconfiará de candidato cuja plataforma é falar mal dos outros, especialmente dos favoritos – isso é muito suspeito. O povo não é bobo.

(*) Escritor e jornalista

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