A denúncia de um suspeito

23/09/2016 às 21:42.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:57

Aristoteles Atheniense*

Em recente entrevista, o senador Renan Calheiros criticou o Ministério Público pelo seu “exibicionismo” na Operação Lava Jato, quando da denúncia oferecida contra Lula. A seu ver, é necessário separar o “joio do trigo”, mesmo estando inserido na primeira hipótese. 

Ninguém mais desautorizado a emitir considerações dessa ordem que o presidente do Senado, que responde, no momento, a onze processos em tramitação no STF. O seu desempenho na votação do impedimento de Dilma Rousseff, no sentido de livrá-la da suspensão de direitos políticos, retira-lhe qualquer credencial para emitir a crítica feita ao MP.

Vale reconhecer que a revelação transmitida pelos procuradores federais e tida por Calheiros como sensacionalista, não importava em condenação antecipada do infrator. Constituiu, sim, divulgação de fatos de interesse da população, normalmente desinformada do que realmente acontece na cúpula do poder.

Se a Lava Jato conseguiu reunir mais de trezentas provas, compreendendo recibos, notas fiscais e extratos bancários, importa em evidente má-fé sustentar a inexistência de prova da desonestidade que medra nas hostes petistas. A sabedoria popular já consagrou que “ladrão não passa recibo”. 

A defesa que Lula ofereceu importou numa ópera-bufa, reagindo em longo e choroso discurso, comparando-se a Tiradentes, Getúlio Vargas e até Jesus Cristo. Apesar de haver enganado 200 milhões de brasileiros que acreditavam no seu discurso “tudo pelo social”, apoderando-se do programa iniciado por Ruth Cardoso. 
Como ressaltou a colunista Dora Kramer (“O Estado de S. Paulo”, 18/9), “fosse de fato inexistente a substância do material na posse do MP, ele teria rebatido ponto a ponto sem o auxílio de recursos histriônicos.

O seu propósito foi inocular desconfiança nos investigadores, que teriam montado um “circo”. A resposta já lhe foi dada no recebimento da denúncia pelo juiz Sérgio Moro. 

Restou patente que a “jararaca” realmente ainda sobrevive, só que à custa das mentiras que lhe dão sustentação e lhe rendem os aplausos de seus aficionados. 

(*) Advogado e Conselheiro Nato da OAB, diretor do IAB e do IAMG e presidente da AMLJ
 

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