A felicidade de um obstetra

19/10/2018 às 21:06.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:20

Roberto Sizenando Silva*

São quase 2 horas da manhã. Estou indo ao hospital para atender uma parturiente, que dará á luz o primeiro filho. A enfermeira me informa que as contrações já estavam fortes. Entro no quarto da paciente e a vejo com expressão de dor. O marido ao lado, sem saber bem o que fazer, e a avó assentada em uma cadeira perto da cama.

Nesse instante, percebo que o meu estado de ânimo mudou por completo. Já não tenho sono, já não penso em que tudo possa se resolver com rapidez. Compreendo que preciso transmitir tranquilidade e paz àquelas pessoas. Procuro sorrir, tomo as mãos da parturiente entre as minhas e digo palavras de estímulo. Ausculto o feto e avalio a evolução do trabalho de parto. Resolvo aguardar um pouco mais antes de indicar a anestesia solicitada por ela. Vou para o quarto dos médicos e começo a pensar sobre o bem-estar daquele feto. Acordo com o telefone. É a enfermeira chamando porque a parturiente diz que já não está suportando as contrações. São 4 horas da manhã.


Volto ao quarto e vejo todos novamente inquietos. Ausculto novamente o feto e avalio a evolução. Vamos então para a sala de anestesia. Após alguns minutos, tudo fica mais calmo. Novamente procuro transmitir palavras de incentivo. Sento-me numa cadeira e me surpreendo pensando que esta situação que estou vivendo tem um significado maior do que apenas o aparente. Levanto-me, ando calmamente pelos corredores, vou até onde está a parturiente, converso, brinco, ausculto o feto, observo as contrações e deito-me na cama do boxe ao lado. Acordo meio assustado. Olho o relógio: são quase 6 horas. A mãe me diz com convicção que está na hora de o neném nascer. Vamos todos para a sala de parto. Ela participa ativamente e, após alguns minutos, nasce um lindo neném. Logo chora. O pais choram também. Sorrio, dou-lhes os parabéns, sinto uma grande paz interior. 


Enquanto continuo o trabalho, volto a refletir: que acontecimento fabuloso se deu. Presenciei o nascimento de um novo ser e, mais do que isto, fiz parte desse nascimento. Meu coração chora comovido todas as lágrimas que os olhos se acanham em derramar. Deixo o hospital e enquanto caminho sinto-me o mais feliz e o maior de todos os homens.


*Médico obstetra e pesquisador de Logosofia. Texto escrito em homenagem ao Dia do Médico comemorado em 18 de outubro
 

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