A gourmetização do carro

24/10/2017 às 15:34.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:22

Aroldo Rodrigues*

As crises são consideradas períodos de transformações, de reinvenção. A frase “É na crise que estão as oportunidades”, de tão repetida se tornou um lugar comum, mas ela nunca se mostrou tão verdadeira. O brasileiro por natureza já é um empreendedor, frequenta o topo dos rankings de empreendedorismo mundial. Com o empurrão da crise, e o desemprego que bateu à porta de milhões nos últimos dois anos, o número de micro e pequenas empresas no Brasil atingiu patamares históricos. 

Boa parte destes novos empresários não estão cientes nem preparados para o desafio que irão enfrentar. O cidadão que empreende por necessidade geralmente não analisa o mercado em que pretende ingressar, nem estrutura sua operação. Como precisa fazer caixa logo, boa parte transforma habilidades pessoais e aptidão para uma determinada atividade em negócio. Mas ser um bom cozinheiro não quer dizer necessariamente que a pessoa será um bom dono de restaurante, são coisas bem distintas.

Neste contexto, por conta do seu baixo custo, mobilidade e boa receptividade dos consumidores, os Food Trucks tem sido uma modalidade que os novos empreendedores tem recorrido para iniciar um negócio. Alguns empresários conseguiram transformar pequenas vans em um lucrativo ponto de venda, que “correm” atrás do cliente onde quer que ele esteja. O sucesso de alguns foi tanto que seu modelo de negócio virou franquia, proporcionando a outros microempresários já iniciarem a jornada empreendedora em um estágio mais avançado, com uma modelagem já testada e comprovada, claro que pagando por isso.

O problema é que a onda da “gourmetização” atingiu em cheio os Food Trucks. Muitas vezes estes novos empresários tem se preocupado mais em manter o estilo de seu negócio, com uma identidade cada vez mais “nichada”, do que com o produto em si. Se preocupam tanto com a experiência de consumo que muitas vezes se esquecem do que levou o consumidor até ali: o produto. Comida de rua, antes de mais nada, deve ser prática e com preço acessível, ou, no mínimo, compatível com outros estabelecimentos. O consumidor paga a mais para experimentar uma novidade, para descobrir o “verdadeiro sabor do hambúrguer artesanal”, mas o que irá determinar se haverá uma segunda compra, e, por consequência, o sucesso deste empreendimento, é a relação custo-benefício. 

(*) Economista

  

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