A inflação a seu favor

29/11/2021 às 19:57.
Atualizado em 08/12/2021 às 01:10

Fábio Ferreira*

A inflação sempre foi um dos grandes vilões da economia nacional. E a pandemia, associada a fatores político-econômicos internos e externos, fez com que ela ganhasse um vigor corrosivo, que vem destruindo o poder de compra das famílias brasileiras. Para agravar, o país enfrenta uma crise hídrica que compromete o desempenho da agricultura e da pecuária, e a desvalorização do real frente ao dólar força a elevação dos preços de diversos produtos.

A começar pelos combustíveis. Nos últimos 12 meses, em meio à assustadora sequência de altas, o litro da gasolina subiu 42,72% nas bombas, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que serve como um dos medidores da inflação. Com base no IPCA até o mês de outubro, o etanol teve alta de 67,41% no acumulado de 12 meses, enquanto o gás veicular subiu 39,58% e o óleo diesel elevou-se em 41,34%.

Também neste período, o botijão de gás aumentou 37,86%, a energia elétrica residencial superou os 30,2% e as passagens aéreas ficaram 50,1% mais caras. Sem falar nos itens mais essenciais, os alimentos, que tiveram altas que superam até os 85%. O índice, em geral, revela uma inflação acumulada de 10,67% entre os meses de outubro de 2020 e de 2021. Em suma, é factível afirmar que o Brasil ficou um país bem mais caro.

Mas há outro prisma com o qual se pode contemplar a inflação, e que se ampara bem na máxima de que “se não pode vencê-lo, junte-se a ele”. Pois não só é possível como também seguro e, o melhor, rentável colocar a alta dos preços a favor do bolso. O mercado oferece boas opções de ativos indexados ao IPCA que permitem ganhos reais, ou seja, acima da inflação. Eles são acrescidos de um percentual que torna a aplicação atraente.

O mais conhecido, e que de certa forma já caiu no gosto dos brasileiros, são os títulos do Tesouro Direto. Entre os papéis pós-fixados, os rendimentos são variáveis, já que dependem exatamente da performance da inflação.

Trata-se de uma modalidade que precisa ecoar com maior intensidade em forma de educação financeira, pois, diferentemente da famigerada caderneta de poupança, não existe risco de ver as aplicações se corroerem, embora não tenha a mesma liquidez nem as mesmas condições em caso de antecipação do resgate.

Os pequenos investidores de Tesouro Direto costumam tomar o hábito saudável de montar o próprio portfólio e de acompanhar com freqüência o desempenho dos seus ativos.

Mas investidores mais leigos também dispõem do acesso aos títulos atrelados ao IPCA, recorrendo aos chamados fundos de inflação, focados na superação do índice por meio de uma ampla diversificação de produtos, e conduzidos por profissionais do mercado.

Se é que se pode chamar assim, a grande desvantagem desses fundos é a impossibilidade dos membros de acompanharem os rendimentos de cada ativo. Seu papel é apenas de observar os ganhos, o que já não é mau negócio. E, em se tratando de ganhos, é possível potencializá-los também com base na inflação. É o que ocorre com quem investe em debêntures, que funcionam como um empréstimo feito a companhias num médio ou longo prazo. Neste caso, as empresas pagam juros maiores do que oferecem outras modalidades, mas os riscos também são mais elevados.

O Brasil avançou muito nas duas últimas décadas em relação à educação financeira, e hoje se tem acesso com mais facilidade às boas opções do mercado. Driblar a inflação é só uma das formas de fazer do limão uma limonada. Conhecer todos os produtos que oferecem rendimentos é uma boa forma de entender que a alta dos preços continuará acontecendo, mas que dá pra explorar ao menos parte do potencial desse inimigo a seu favor.

* Sócio-diretor da Atrio Investimentos

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