A recessão está acabando

26/01/2017 às 20:41.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:35

Paulo Paiva*

A mais longa e profunda recessão da história do Brasil está chegando ao seu final.  As estimativas para 2016 indicam queda de -3,5% do PIB. Com retração no último trimestre do ano, em comparação com o trimestre imediatamente anterior, completam-se dois anos seguidos de recessão.

A boa notícia é que essa retração está perdendo força, como uma tempestade que vai se afastando. Examinando a evolução da taxa anualizada de variação do PIB, observa-se que desde o segundo trimestre de 2014, quando apresentou crescimento de 2,5%, a economia vinha se desacelerando. No final de 2015 registrou queda de -3,5%, chegando ao seu nível mais baixo no primeiro semestre do ano passado, ao encolher -4,8%. No terceiro trimestre a queda (-4,4%) foi menor e no final do ano deverá ser menor ainda (-3,5%). O fundo do poço foi, então, no meio do ano passado.

Todavia o caminho da recuperação será lento. O mercado, conforme o Relatório Focus do Banco Central, estima crescimento de 0,5% neste ano. O FMI, mais cauteloso, admite crescimento menor (0,2%), contudo positivo. A trajetória mais plausível é de que as taxas trimestrais negativas continuam até o final do primeiro semestre deste ano. Assim, haverá 10 trimestres seguidos de recessão, até a reversão completa, no terceiro trimestre deste ano.

A lenta recuperação, a acelerada deflação e a aprovação do novo regime fiscal no Congresso Nacional permitiram ao Banco Central intensificar os cortes na taxa de juros. A taxa Selic, que está em 13%, poderá chegar a 9,5%, conforme estima o mercado; o que vale dizer, espera-se, ainda, corte acumulado de 3,5pp na taxa básica de juros até dezembro.

A reversão das expectativas e as quedas da inflação e dos juros são fatores relevantes para construir um cenário de confiança e otimismo. Pode-se, ainda, adicionar a estimativa de uma supersafra agrícola, com mais de 210 milhões de toneladas, e o retorno de investimentos em infraestrutura, principalmente na área de petróleo e gás, em razão da mudança do marco regulatório do Pre-Sal.

Essa travessia lenta e frágil poderá, no entanto, ser interrompida pelo que vier a ocorrer na política.

(*) Professor Associado da Fundação Dom Cabral. Foi ministro do Trabalho e do Planejamento e Orçamento no governo FHC

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