A retomada da produção automotiva e os seminovos

16/08/2021 às 16:52.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:41

Reinaldo Lacerda*

A Kavak, startup mexicana de compra e revenda de veículos, anunciou recentemente que direcionou cerca de R$ 2,5 bilhões para a compra de 2.500 veículos no Brasil. Até o final de 2022, ela pretende adquirir 100 mil carros. Avaliada em cerca de US$ 4 bilhões, a Kavak se tornou um “unicórnio” (termo recorrente no mundo corporativo em referência a um grande feito). A startup mexicana foi a primeira de seu país a ultrapassar a avaliação de mercado de US$ 1 bilhão.

A escolha do Brasil como destino de seus investimentos foi motivada pelos excelentes resultados do mercado local de seminovos - o país é o terceiro melhor, atrás apenas de China e EUA.

Dados recentes da Kelley Blue Book Brasil, empresa especializada em pesquisa de preços de veículos, deixam isso muito claro: carros de quatro a 10 anos de uso valorizaram, em média, 13,04% durante o primeiro semestre de 2021. O levantamento ainda mostrou que os veículos mais antigos puxaram as altas de preços ao longo do período, acumulando variação de 15,01%.

Para mais, a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) apontou o crescimento no mercado de seminovos de quase 82%, quando comparado com o mesmo período do ano passado. Foram mais de 990 mil unidades comercializadas ante as 546.538 de 2020. Já a média diária de vendas ficou em torno 59 mil, o que representa aumento de 7,8% em relação ao primeiro semestre de 2019, quando ainda não havia crise da Covid-19 no país.

Diversos motivos explicam esse movimento. Entre eles, o “custo-benefício”. Ou seja, consumidores que já procuravam um carro zero quilômetro optaram pela compra de um modelo usado, seja pela oferta, preço ou comodidade. E, por consequência, acabaram se sentindo atraídos pelos seminovos devido à rígida inspeção e certificação de dados pelas quais os carros são submetidos antes da venda.

Também não se deve desprezar a escassez de modelos de entrada zero quilômetro no mercado. A indústria automotiva foi o segmento que mais sofreu as consequências da pandemia do novo coronavírus. O preço médio desses veículos chegou a níveis muito acima da inflação. Como resultado, o percentual de venda caiu 21,6% no ano passado, de acordo com a Fenabrave.

Contudo, as projeções para o desempenho do mercado de automóveis para o próximo ano indicam que o setor voltará ao nível pré-pandêmico. A expectativa é embasada nos resultados do primeiro semestre de 2021 - período em que a indústria automotiva registrou alta de 33%, crescimento que só não foi maior devido à falta de semicondutores.

Embora a notícia se mostre extremamente positiva, há de se considerar a situação paradoxal que se implica dela. Com a retomada da produção de veículos novos, o mercado de seminovos será afetado. Portanto, cabe a esse segmento não se abater e buscar novas soluções para que seu resultado continue positivo como vem se apresentando.

 

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