Aristóteles Atheniense (*)
A banca de venda de votos instalada no Palácio do Planalto, destinada à obtenção de número suficiente, que assegure a permanência da presidente da República, é o procedimento mais solerte de que se tem notícia na história deste país.
As vantagens oferecidas a parlamentares despreparados para o exercício da gestão pública importam num vexatório expediente, ainda que denominado de “repactuação de alianças partidárias”.
É incompreensível que o Procurador-Geral da República não haja se manifestado a esse respeito, nem adotado providências capazes de conter a sanha presidencial e o tráfico de consciências, que busca – custe o que custar – um resultado favorável.
Certo que este projeto ignóbil conta com atuação eficaz do ex-presidente Lula, atuando junto aos integrantes do “baixo clero”, embora a sua situação ministerial ainda não tenha sido definida pelo STF.
A se admitir que somente ele seja capaz de “incendiar” o Brasil, conforme declarou recentemente, não é de se estranhar que esteja comandando essa trapaça, visando negociar altos cargos, mesmo que os seus atuais ocupantes relutem em despir-se das funções que estejam exercendo.
A recente afirmativa da presidente Dilma de que a substituição somente ocorrerá após a votação de seu impeachment, traduz a sua desconfiança naqueles que esteja recrutando com a finalidade de resistir ao processo instaurado.
Este loteamento político concentra-se, sobretudo, na captação de apoio dos deputados do Norte e Nordeste, que, estando geograficamente mais distantes dos grandes centros, certamente não sofrerão maior pressão na campanha desencadeada em favor do impeachment.
Daí a presença de Lula naquelas regiões, empenhando-se em conseguir o apoio de dez integrantes do Pros, PTN e PDT, que pesariam na obtenção dos 172 votos de que carece, desfalcando os 342 de que a oposição necessita, para que ocorra a queda da presidente.
A esta altura, ainda é grande o número de indecisos, o que explica a presença no Congresso do advogado-Geral da União, José Eduardo Cardozo, com a arenga que contou com os aplausos delirantes das claques remuneradas, insistindo no chavão da presidente de que se tornou o porta-voz: “Impeachment sem crime é golpe”.
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ), como se estivesse ainda na presidência da UNE, adiantou: “O PMDB facilitou o jogo para o governo, que terá agora condições de construir uma maioria (sic.) de 200 votos. Não haverá impeachment”.
A capacidade desmedida do governo em mascarar os fatos ultrapassou os limites da razão. Importou no desplante de promover comícios dentro do próprio Palácio do Planalto, anunciando a invasão de propriedades rurais pelo MST, fazendo lembrar a agitação em prol da reforma agrária que apressou o debacle do governo João Goulart.
É inaceitável que esta situação possa perdurar sem que haja uma permanente disposição do nosso povo em conter tamanha ousadia, com uma Constituição pisoteada por um governo cambaleante, prestes a desabar de vez.
É oportuno lembrar que, também, em 1964, ficamos expostos a essas audácias, patrocinadas por um presidente que se dizia imbatível, que se valia das mesmas ameaças, como se contasse com o respaldo popular capaz de resistir a qualquer oposição.
O resultado veio em pouco tempo, como provavelmente ocorrerá, tal o inconformismo dos brasileiros com o quadro decepcionante que estamos vivendo.
(*) Advogado e Conselheiro Nato da OAB; Diretor do IAB e do IAMG; Presidente da AMLJ