Anos de integração civil-militar

27/08/2018 às 20:22.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:08

Aristóteles Drummond* Na campanha eleitoral, diante do favoritismo do deputado Jair Bolsonaro, de origem militar, muito se tem falado da Revolução, cujos críticos denominam de “golpe de 64”. O candidato defende o período, embora tivesse nove anos quando de sua eclosão.A campanha sistemática que aborda apenas os embates da luta armada, com lamentáveis excessos de parte a parte, pode levar os mais jovens a acreditarem que foram realmente “anos de chumbo” . É justo que se situe a presença civil naquele evento que pertence à história. Em primeiro lugar, a deposição do presidente João Goulart partiu de uma união do então governador de Minas Magalhães Pinto, político com mandatos de deputado e na direção da UDN, importante partido, com a tropa federal sediada em Minas, sob o comando dos generais Olímpio Mourão Filho e Carlos Luiz Guedes. Logo, contou com a adesão dos governadores de São Paulo, do Paraná, do Rio Grande do Sul e da Guanabara, além da unanimidade das Forças Armadas. Não houve reação civil nem militar à Revolução ou ao golpe. Os presidentes foram todos eleitos pelo Congresso, onde estavam políticos que não formaram na oposição a Jango, caso de Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Juscelino Kubitschek e tantos outros. Os governos militares colocaram as finanças públicas em ordem e promoveram grandes obras na energia e nos transportes. E tiveram a maioria dos grandes nomes de nossos economistas, como Roberto Campos, Otávio Bulhões, Mário Henrique Simonsen, Antonio Delfim Netto, Ernane Galveas e Affonso Celso Pastore.  O recrutamento de civis, muitos detentores de mandatos eletivos, reuniu o que existia de mais respeitado na classe política, como Pedro Aleixo, Murilo Badaró, Aureliano Chaves e Francelino Pereira. Gente de biografia limpíssima. Não se pode, portanto, considerar que vivemos uma ditadura, quando na verdade tivemos governos autoritários. O ideal é a democracia que temos, com a ordem e a eficiência que tivemos naqueles anos. Mas o fato é que devemos muito aqueles governos. E não contribui para nosso futuro fazermos política com os olhos no retrovisor da história.  *Escritor e jornalista  

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