As duas faces da presidenta

06/05/2016 às 21:45.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:19

Aristóteles Atheniense (*)

Já tornou-se comum a transfiguração da presidente Dilma Rousseff sempre que lhe seja conveniente esta metamorfose. 

Nos dias que precederam a votação do impeachment na Câmara dos Deputados, Dilma extravasou a antipatia que nutre pelo Legislativo e, em especial, pelo então presidente Eduardo Cunha. Segundo ela, o processo a que responde só foi instaurado devido à sua recusa em negociar com ele os votos de que a base aliada dispunha no Conselho de Ética, onde está sendo julgado.

A sua arrogância, somada à renovada afirmativa de que está sendo vítima de um complô, foi passada à imprensa estrangeira mediante versão descabida, que faz gerar suspeita quanto à sua consciência em relação àquilo que dissera.

Nesta mesma atoarda, o advogado-geral, que é da União – e não de Dilma – em retumbante pronunciamento insistiu na mesma potoca de que a chefe não cometera os crimes de natureza fiscal que lhe foram imputados. Passada a votação, a ira de José Eduardo Cardozo tornou-se ainda maior, a ponto de afirmar que o país corria o risco de uma conspiração armada contra o Estado de Direito.

Àquela altura, bem outro era o semblante da mandatária. Não era mais a que promovera sucessivos comícios no Planalto, apadroando as ameaças de invasão de propriedades privadas pelo MST, julgando-se inatingível pelas acusações que vinha sofrendo.

Mostrava-se uma pessoa cordata, equilibrada, aceitando o desfecho da pugna comandada pelo seu adversário Eduardo Cunha, embora, no íntimo, indignada com a acolhida que a Câmara dispensara a iniciativa da oposição. 

Desapareceu, então, a figura da ex-guerrilheira, portadora de mensagem agressiva, que sempre qualificou de golpista todos aqueles que contestassem o seu mandato, fruto do estratagema montado pelo marqueteiro João Santana.

Ainda não refeita da tormenta, Dilma voou para Nova York, onde, segundo assessores, deveria propagar a artimanha de seus contendores. O senador Lindbergh Farias sugeriu-lhe que divulgasse a fraude por todo o mundo.

Antes de embarcar, ficou ciente das declarações dos ministros Celso de Mello, Gilmar Mendes e Dias Toffoli (ex-advogado da AGU e do PT), que reputaram de grave e inconsistente o projeto que ela pretendia desaguar sobre a Assembleia da ONU.

Assim que chegou àquele organismo, insuflada pelo apoio de Nicolás Maduro, Evo Morales, Raúl Castro e do bem intencionado José Pepe Mujica, enfatizou: “O nosso povo soube vencer o autoritarismo e construir uma pujante democracia”. Assim, “não tenho dúvidas de que impedirá qualquer retrocesso”.

Passadas algumas horas do discurso equilibrado proferido na ONU, recebido como “adequado” pelo vice-presidente Temer, Dilma não tardou a emitir a notícia sobre “o grave momento que vive o Brasil”. 

Entrevistada por jornalistas brasileiros na residência do embaixador Antônio Patriota, a presidente desfez-se da máscara com que se apresentou na ONU pela manhã. No seu pronunciamento, muito semelhante ao de Marina Silva, em prol da antecipação das eleições, foi categórica: “Pessoas ilegítimas, que não tiveram voto, querem assumir o destino do país. Não sou contra eleições de maneira alguma. Mas uma coisa é eleição direta com voto secreto e o povo brasileiro participando”. 

Sem chegar a dizer qual seria a “outra coisa”, deixou logo transparecer que a linguagem amena, usada anteriormente, não passou de um artifício enganoso, de um comportamento falso, para que pudesse transmitir aos presentes aquilo que nunca foi.

Mostrou, nessas duas manifestações, ser dotada de dupla face. Quando sai do Brasil e necessita transmitir uma imagem indulgente para com os seus adversários, muda de estilo, o quanto antes. Mas, sempre que assume uma posição de rebeldia, não se acanha em revelar o que é, usando de palavras chulas, no que se identifica com o seu descobridor, embora não tenha, ainda, conseguido fazer dele o ministro de que tanto necessita. 

(*) Advogado e Conselheiro Nato da OAB ; Diretor do IAB e do IAMG; Presidente da AMLJ

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