Avanços no tratamento do câncer infantojuvenil

24/08/2018 às 21:11.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:06

Francisco Neves* Quando meu filho caçula foi diagnosticado com leucemia, em 1983, o câncer era uma doença que significava, senão a morte, quase o óbito, principalmente para as crianças. Um pai ou uma mãe, ao receber uma notícia como essa, no primeiro momento sente o chão se abrindo, mas depois começa a surgir a força e a vontade de batalhar. Toda essa experiência com meu filho, falecido em 1990, levou-me ao trabalho do Instituto Ronald McDonald no Brasil. Desde o início dessa luta, registramos muitos avanços, mas ainda estamos distantes do que é feito nos países desenvolvidos: ainda há muito a ser feito pela oncologia pediátrica brasileira. O câncer é a maior causa de morte por doença entre crianças e adolescentes de 1 a 19 anos. Como causa geral, a patologia só perde para as causas naturais. Dados da estimativa anual do Instituto Nacional de Câncer (Inca) mostram que serão registrados no biênio 2018-2019, para cada ano, 12.500 novos casos de câncer em crianças e adolescentes, mais de um caso por hora. Em 2001, quando fizemos o primeiro planejamento estratégico do instituto, levantamos pontos cruciais para mudar a realidade dessa doença junto às instituições parceiras da rede oncológica. O primeiro deles foi a importância de a criança ser tratada por um oncologista pediátrico. Isso é essencial, porque elas não são miniadultos e têm um sistema biológico singular. Com isso, garantiu-se que hospitais parceiros em todo o Brasil tivessem ao menos um oncologista especializado em crianças.  Outro ponto importante definido foi o de tratar as crianças com câncer separadamente das outras patologias. Ainda há quem pense que o câncer é contagioso, mas acontece o contrário: a criança com câncer pode ser prejudicada por um resfriado alheio se estiver com imunidade baixa. A portaria nº 140, que rege as políticas de saúde da oncologia, passou a estabelecer que haja uma área separada para ambulatório e outra para internação. Mas, por outro lado, os avanços são altos. Em 1988, os índices de cura estavam em torno de 35%. Hoje podem chegar de 70% a 80%, desde que diagnosticado precocemente e tratado adequadamente. Se antes, a cada 10 crianças, três se curavam, hoje sete se salvam. Esses indicadores são vistos em serviços que são apoiados pelo Instituto Ronald McDonald, já que a média do Brasil é de 64%. Diante desses dados, o trabalho precisa ser contínuo. Portanto, é essencial o investimento em diagnosticar antecipadamente. Com o programa Diagnóstico Precoce, por exemplo, vamos aos lugares mais distantes do país por meio dos agentes de saúde e médicos das unidades básicas.  Uma pesquisa nas áreas do programa mostrou o avanço de 23% em casos de suspeita, além da diminuição de 61% do tempo de atendimento: caiu de 13 para 5 semanas. Treze semanas podem representar três meses para as crianças, isso relativo ao tempo que o tumor pode se desenvolver, pois nelas as células se reproduzem mais rapidamente do que nos adultos. O diagnóstico tardio pode diminuir muito o índice de cura dependendo da gravidade do tumor. Outro desafio constante é melhorar a qualidade do atendimento nas unidades hospitalares do Brasil para que, cada vez menos, haja a migração entre as regiões em busca do tratamento. Os recursos das doações permitiram que fossem criados, nas capitais, centros de excelência, mas é preciso um olhar diferente para os hospitais que não têm instalações necessárias.  Há também um esforço em parceria com a Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica para trabalhar com um protocolo uniformizado. Existe um programa apoiado que é a central informatizada de oncologia pediátrica, com especialistas de câncer em diversas áreas, que se comunicam com outros médicos e formam grupos que trabalham. A ideia é que as crianças em vários estados sejam tratadas com o mesmo protocolo e medicamentos que tiveram eficácia comprovada. Não falta esperança para alcançar o sonho da cura do câncer para milhares de crianças e adolescentes. Por isso, o apoio da sociedade é tão importante. * Superintendente do Instituto Ronald McDonald  

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