Cadeias de negócios sustentáveis

29/04/2016 às 21:46.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:12

Thiago Terada (*)

Durante a 21ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a COP21, realizada em 2015, o Brasil assumiu o compromisso de reduzir em 37% a emissão de gases do efeito estufa até 2025. Para 2030, o objetivo é ainda mais desafiador: minimizar a emissão de gases em 43%, zerar o desmatamento na Amazônia Legal e restaurar 12 milhões de hectares de florestas.

Para que o país atinja esses números, além do reflorestamento, fiscalização e criação de unidades de conservação, é preciso apostar também em alternativas de uso sustentável da floresta pelas mais de 4 milhões de pessoas que lá vivem. 

Uma oportunidade para atingir a meta é por meio do extrativismo sustentável, iniciativa que consiste na manutenção das florestas em pé, para que seus frutos e sementes sirvam como uma fonte de renda aos moradores das comunidades ribeirinhas e pequenos núcleos de agricultura familiar através do SAF – Sistema Agroflorestal. 

O objetivo é fazer com que as famílias que vivem em áreas como a região amazônica não dependam apenas de atividades como a monocultura de mandioca e a pesca, por exemplo. Dessa forma, é possível respeitar as sazonalidades e ainda beneficiar as comunidades extrativistas. 

Atentas à tendência global de vegetalizar as formulações que produzem, as indústrias de cosméticos e higiene pessoal podem ser vistas como importantes agentes no processo de extrativismo sustentável. Isso porque grandes companhias globais passaram a buscar na natureza alternativas eficientes, como frutos e sementes com propriedades capazes de auxiliar no tratamento dos cabelos e do corpo.

No entanto, para que essa parceria entre indústria e comunidade seja colocada em prática, é necessário investir na criação de uma cadeia de fornecimento sustentável, na qual seja possível comprar os insumos naturais, criar competências empreendedoras nestas comunidades e ainda repartir benefícios com as famílias fornecedoras de matérias-primas. Esse modelo de negócio propõe que sejam promovidas alianças entre as empresas do setor, ONGs, academias e órgãos governamentais, para contribuir com o desenvolvimento dessas famílias por meio da promoção do conhecimento, da transferência de tecnologias, do aprimoramento técnico e da capacitação de pessoas. 

Um exemplo prático de como o extrativismo sustentável ajuda a promover a melhoria social e a preservação do meio ambiente está na cadeia do pracaxi e murumuru, no Estado do Pará. Em um levantamento feito em parceria com uma academia, foi constatado que, em determinadas regiões, para cada R$ 1 investido no extrativismo sustentável, são retirados R$ 3,6 da mão de obra em madeireiras ilegais. Somado a isso, temos o aumento da eficiência de políticas públicas como o Seguro-defeso e a Bolsa Verde, que criam incentivos para colaborar nesse processo.

Esse é apenas um dos trabalhos que encontramos no país capazes de ajudar a conter o desmatamento e a degradação ambiental. O ponto principal é que as florestas devem ser vistas como fonte de recursos finitos e essencial para a sobrevivência da humanidade. Sua preservação é o passaporte para um futuro com mais esperança para as futuras gerações. 

(*) Gerente de Sustentabilidade e Assuntos Corporativos da Beraca, fornecedora de ingredientes naturais provenientes da biodiversidade brasileira para as indústrias de cosméticos e farmacêutica.

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